A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou que um de seus profissionais foi morto na quinta-feira 3 na Faixa de Gaza. Abdullah Hammad, que atuava como higienista em uma clínica gerida pelo grupo internacional em Al-Mawasi, uma região costeira no sul do enclave, foi atingido por tiros enquanto tentava recolher um saco de farinha em um ponto de distribuição de alimentos em Khan Younis, cidade próxima a Al-Mawasi.
Segundo MSF, forças israelenses abriram fogo deliberadamente contra um grupo de civis que aguardava a chegada de caminhões com alimentos e outros suprimentos básicos, sem qualquer advertência. Pelo menos dezesseis pessoas morreram no episódio, de acordo com autoridades médicas do Hospital Nasser, em Khan Younis. Hammad é o 12º membro de MSF morto desde o início da guerra, em outubro de 2023.

“Esta carnificina precisa acabar agora”, declarou Aitor Zabalgogeazkoa, coordenador de emergência da organização em Gaza. Ele afirmou que o nível de desespero por comida na região ultrapassa qualquer compreensão, e denunciou que a distribuição de alimentos tem sido feita de forma “militarizada, degradante e mortal”.
A irmã e dois irmãos de Abdullah também trabalham para MSF. A organização lamentou profundamente sua morte e exigiu o fim imediato do que classificou como um “derramamento de sangue deliberado”.
Ameaça em centros de ajuda
O caos tomou conta da distribuição de alimentos no enclave devastado por uma crise humanitária. Ao menos 613 palestinos foram mortos após forças israelenses abrirem fogo perto de centros de ajuda em Gaza, disse o escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas nesta sexta-feira, 4. A contagem teve como base informações de hospitais, cemitérios, famílias, autoridades de saúde palestinas, ONGs e parceiros da ONU na região.
O perigo em torno dos centros de distribuição de alimentos exacerba a profunda crise de fome no território. A população da Faixa de Gaza, composta por 2,3 milhões de pessoas antes da guerra, está em “risco crítico” de fome e enfrenta “níveis extremos de insegurança alimentar”, apontou um relatório da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), apoiada por agências das Nações Unidas, grupos de ajuda e governos.
O documento indicou que o cessar-fogo, que durou de janeiro a março, “levou a um alívio temporário” em Gaza, mas as novas hostilidades israelenses “reverteram” as melhorias. Cerca de 1,95 milhão de pessoas, ou 93% da população de Gaza, vivem níveis de insegurança alimentar aguda. Desse número, mais de 244 mil enfrentam graus “catastróficos”. A fome generalizada, segundo a pesquisa, é “cada vez mais provável” no território. No momento, meio milhão de palestinos, um em cada cinco, estão famintos em Gaza.
Bloqueio a Gaza
Israel impôs um bloqueio total a Gaza em 9 de março, suspendendo-o parcialmente em maio apenas para o Programa Mundial de Alimentos Da ONU e a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), uma organização privada ligada aos Estados Unidos e Israel.
No entanto, não permite que a agência da ONU para refugiados palestinos, a UNRWA, realize as operações de entrega. O órgão possui de longe a maior rede de distribuição de ajuda humanitária no enclave, mas foi banido por Tel Aviv sob alegações de ser cúmplice do Hamas. (Após uma investigação interna, a UNRWA demitiu nove de seus 13 mil funcionários sob suspeita de envolvimento no ataque a comunidades israelenses em outubro de 2023, que desencadeou a guerra, mas não encontrou evidências das alegações mais amplas de Israel.)
A GHF pretende ser um substituto da UNRWA, mas seu método de entrega de alimentos – em um número limitado de locais fortemente militarizados – vem resultando em centenas de mortes desde o início de suas operações, em 26 de maio. A maioria das baixas ocorreram após forças israelenses abrirem fogo contra palestinos que tentavam chegar aos pontos de distribuição.