A Polícia Civil divulgou que apura as suspeitas de ligação com o crime organizado de todos os envolvidos no caso do desaparecimento e morte de quatro homens que foram cobrar uma dívida de 255 mil reais em Icaraíma, no interior do Paraná. As autoridades divulgaram as fichas com antecedentes criminais tanto das vítimas quanto dos suspeitos de serem os autores dos múltiplos homicídios.
A divulgação, segundo a corporação foi feita porque “o andamento das investigações revelou a necessidade de levantamento do histórico criminal de todas as partes envolvidas nesse caso, com objetivo de averiguar (confirmar ou afastar) o possível envolvimento das partes (autores e vítimas) com o crime organizado, já que chegou ao conhecimento da Polícia Civil que a dívida e a cobrança não teria como base apenas o desacerto envolvendo a propriedade rural em Vila Rica, mas também negócios ilícitos entre as partes”. Apesar disso, a polícia reforçou que, até o momento, não é possível afirmar que existia essa relação ilícita entre as partes.
Diego Henrique Afonso, Robishley Hirnani de Oliveira e Rafael Juliano Marascalchi trabalhavam irregularmente há pelo menos treze anos fazendo cobranças de dívidas de modo agressivo e persuasivo, segundo a polícia. Eles foram contratados por um morador de Icaraíma, no noroeste do Paraná, identificado como Alencar Gonçalves de Souza, para que cobrassem o valor de um terreno rural da cidade que ele vendeu à família Buscariollo, moradora da região. Todos foram encontrados mortos em área de mata no interior do Paraná.
Os três cobradores apresentam as maiores fichas criminais, com casos de ameaça, violência doméstica, estelionato, tráfico de drogas e até tentativa de homicídio. Segundo a polícia, dois deles foram presos em anos passados, Rafael quatro vezes, em 2005, 2007, 2008 e 2010, e Robishley uma vez em 2022.
Os principais suspeitos são o agricultor Antonio Buscariollo e seu seu filho, Paulo Ricardo Costa Buscariollo, que estão foragidos desde 4 de agosto — na próxima quarta-feira, 12, o desaparecimento da dupla completará cem dias.
Confira abaixo o histórico criminal de cada envolvido, segundo a Polícia Civil do Paraná:.
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Suspeitos de assassinato (devedores)
ANTONIO BUSCARIOLLO
- Posse ilegal de arma de fogo em 2018
Antônio é pai de Paulo Ricardo e foi candidato a vereador da cidade em 2024. Anteriormente, já havia sido suplente.
PAULO RICARDO COSTA BUSCARIOLLO
- Nada consta
Vítimas de assassinato (contratante e cobradores)
DIEGO HENRIQUE AFFONSO
- Ano 2024: ameaça contra esposa, no âmbito da violência doméstica (Lei Maria da Penha), estelionato;
- Ano 2023: estelionato, ameaça, redução a condição análoga à de escravo;
- Ano 2022: ameaça, estelionato;
- Ano 2021: estelionato, difamação, ameaça, injúria;
- Ano 2019: apropriação indébita;
- Ano 2018: ameaça.
RAFAEL JULIANO MARASCALCHI
- Ano 2025: ameaça
- Ano 2023: exercício arbitrário das próprias razões;
- Ano 2022: exercício arbitrário das próprias razões;
- Ano 2018: ameaça;
- Ano 2017: ameaça contra a esposa, no âmbito da violência doméstica e familiar;
- Ano 2014: ameaça;
- Ano 2008: tráfico de drogas e associação para o tráfico de drogas;
- Ano 2007: tráfico de drogas;
- Ano 2005: tentativa de homicídio.
ROBISHLEY HIRNANI DE OLIVEIRA
- Ano 2018: dano, estelionato, ameaça;
- Ano 2017: estelionato;
- Ano 2016: ameaça, exercício arbitrário das próprias razões, ameaça contra esposa no âmbito da violência doméstica, lesão culposa no trânsito e fuga do local do acidente, estelionato;
- Ano 2015: estelionato;
- Ano 2014: embriaguez ao volante, estelionato, ameaça;
- Ano 2013: ameaça contra esposa no âmbito da violência doméstica; crime ambiental contra flora;
- Ano 2003: furto qualificado;
ALENCAR GONÇALVES DE SOUZA GIRON
- Nada consta
Alencar foi o contratante dos cobradores. Os Buscariollo deviam 255 mil reais a ele pela compra de um terreno na área rural da cidade.
Relembre o caso
Os três amigos desapareceram após viajarem de São Paulo ao Paraná para cobrar uma dívida de 255 mil reais. Eles foram contratados por um homem — que também desapareceu — para fazer a cobrança do débito, relativo a uma transação envolvendo um imóvel rural. A polícia trabalha com a principal hipótese de que os devedores tenham matado os quatro.
Os três amigos saíram de São José do Rio Preto, em São Paulo, e chegaram a Icaraíma no dia 4 de agosto, quando já entraram em contato com os devedores. Sem resultado, eles voltaram no dia seguinte para continuar a cobrança, mas, desde então, perderam contato com os familiares — momento em que o desaparecimento deles foi informado à polícia.
“Os familiares deles contribuíram [com as investigações], mas não conseguem passar informações precisas sobre o negócio porque nenhum dos cobradores esclarecia exatamente a suas esposas qual era o exato objeto da cobrança. Eles falaram para elas de forma genérica que estavam vindo para o Paraná para cobrar uma dívida que tinha relação com um imóvel, mas não passaram para elas as minúcias do negócio que poderiam ajudar nas investigações”, explicou o delegado Gabriel Menezes.
Enquanto viajavam para o Paraná, os três homens fizeram uma foto no carro (imagem acima) e publicaram nas redes sociais.
Do outro lado, os familiares do contratante, Alencar de Souza, também informaram o desaparecimento dele desde o meio-dia do dia 4. As últimas pessoas que tiveram contato com ele teriam sido Antônio Buscariollo e Paulo Ricardo Costa Buscariollo, pai e filho, respectivamente, quando ele teria cobrado pessoalmente o valor que eles deviam.
Ambos foram ouvidos pela polícia assim que os desaparecimentos foram notificados e disseram não ter qualquer relação com a compra do terreno. Eles teriam indicado outras duas pessoas da família como devedores do caso, mas a polícia não conseguiu confirmar essa versão, já que não conseguiu encontrar essas pessoas.
Pai e filho foram liberados, mas, em seguida, as autoridades abriram mandados de prisão preventiva contra eles — quando os policiais foram até a casa deles, no entanto, não encontraram mais nenhuma pessoa da família. Antônio Buscariollo e Paulo Ricardo Costa Buscariollo são considerados foragidos.
Os corpos do contratante e dos cobradores foram encontrados enterrados em 19 de setembro, a 500 metros de onde o carro deles também foi encontrado, enterrado lateralmente, dias antes. Uma carta anônima foi entregue à polícia, ajudando-a a chegar à região.