Após encontrar os corpos dos quatro homens que desapareceram ao tentarem fazer a cobrança de uma dívida no Paraná, a polícia descobriu que um deles, Rafael Juliano Marascalchi, escondeu o seu próprio RG dentro do sapato. A leitura da advogada que o representa é a de que ele fez isso por saber que iria morrer e para tentar garantir que fosse identificado.
“Em algum momento que ele teve a possibilidade de fazer isso, entre agressões ou no momento em que foi rendido, ele guardou o RG no tênis. Tinha muito sangue no RG. E é muito estranho que ele tenha colocado isso lá, mas, certamente, ele fez isso em um momento de intenso perigo e medo, imaginando que fosse morrer ali, para garantir que fosse identificado [no futuro]”, disse para VEJA a advogada Josiane Monteiro.
Apesar de a perícia nos corpos não ter sido concluída e seus resultados ainda não serem públicos, a advogada recebeu alguns pertences da vítima, dentre os quais o RG ensanguentado. “Eu perguntei à polícia onde encontraram e me disseram que estava dentro do sapato dele”, explicou.
A advogada diz que o três amigos cobradores de dívidas e o contratante deles foram vítimas de uma emboscada dos devedores, Antônio Buscariollo e Paulo Ricardo Costa Buscariollo, e que foram muito agredidos antes de serem mortos. “Acredito que ele [Rafael] não morreu no momento da emboscada, e os traumas [nos corpos deles] mostram isso”, afirma ao citar a informação de que uma das vítimas teria tido um afundamento de crânio, além de vários hematomas e marcas de balas.
Ainda segundo a advogada Josiane Monteiro, a polícia possui atualmente uma lista com vários nomes de pessoas que podem ter ajudado os Buscariollo no crime. Todos estão sendo investigados e podem ter a prisão solicitada em breve.
Além Rafael Juliano Marascalchi, a polícia também encontrou os corpos de Diego Henrique Afonso, Robishley Hirnani de Oliveira e lencar Gonçalves de Souza (o contratante deles). Eles foram enterrados abaixo de plantas em uma região de mata afastada da cidade de Icaraíma, onde o crime ocorreu no início de agosto.
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Relembre o caso
Três amigos desapareceram após viajarem de São Paulo ao Paraná para cobrar uma dívida de 255 mil reais. Eles foram contratados por um homem — que também está desaparecido — para fazer a cobrança do débito, relativo a uma transação envolvendo um imóvel rural. A polícia trabalha com a hipótese de que os devedores tenham matado os quatro.
Diego Henrique Afonso, Robishley Hirnani de Oliveira e Rafael Juliano Marascalchi trabalhavam irregularmente há pelo menos 13 anos fazendo cobranças de dívidas de modo agressivo e persuasivo, segundo a polícia. Eles foram contratados por um morador de Icaraíma, no noroeste do Paraná, identificado como Alencar Gonçalves de Souza para que cobrassem o valor de um terreno rural da cidade que ele vendeu à família Buscariollo, moradora da região.
Os três amigos saíram de São José do Rio Preto, em São Paulo, e chegaram a Icaraíma no dia 4 de julho, quando já entraram em contato com os devedores. Sem resultado, eles voltaram no dia seguinte para continuar a cobrança, mas, desde então, perderam contato com os familiares — momento em que o desaparecimento deles foi informado à polícia.
“Os familiares deles contribuíram [com as investigações], mas não conseguem passar informações precisas sobre o negócio porque nenhum dos cobradores esclarecia exatamente a suas esposas qual era o exato objeto da cobrança. Eles falaram para elas de forma genérica que estavam vindo para o Paraná para cobrar uma dívida que tinha relação com um imóvel, mas não passaram para elas as minúcias do negócio que poderiam ajudar nas investigações”, explicou o delegado Gabriel Menezes.
Enquanto viajavam para o Paraná, os três homens fizeram uma foto no carro (imagem acima) e publicaram nas redes sociais.
Do outro lado, os familiares do contratante, Alencar de Souza, também informaram o desaparecimento dele desde o meio-dia do dia 4. As últimas pessoas que teriam tido contato com ele teriam sido Antônio Buscariollo e Paulo Ricardo Costa Buscariollo, pai e filho respectivamente, quando ele teria cobrado pessoalmente o valor que eles deviam.
Ambos foram ouvidos pela polícia assim que os desaparecimentos foram notificados e disseram não ter qualquer relação com a compra do terreno. Eles teriam indicado outras duas pessoas da família como devedores do caso, mas a polícia não conseguiu confirmar essa versão até o momento, já que não conseguiu encontrar essas pessoas.
Pai e filho foram liberados, mas, em seguida, as autoridades abriram mandados de prisão preventiva contra eles — quando os policiais foram até a casa deles, no entanto, não encontraram mais nenhuma pessoa da família. Antônio Buscariollo e Paulo Ricardo Costa Buscariollo são considerados foragidos.