A cantora, atriz e apresentadora Preta Gil morreu aos 50 anos, em decorrência de um câncer no intestino que tratava há dois anos. Filha do músico Gilberto Gil, a artista havia sido diagnosticada com câncer colorretal em janeiro de 2023, tendo iniciando o tratamento rapidamente, com cirurgias, internações e sessões de quimioterapia. Oito meses depois do primeiro diagnóstico, Preta removeu um tumor e o útero, e anunciou o fim do tratamento em dezembro daquele ano. Em agosto de 2024, porém, o câncer voltou com dois linfonodos, uma metástase no peritônio, além de uma lesão no ureter. No dia 19 de dezembro, a cantora passou por uma operação delicada para a retirada de um tumor, procedimento que durou 21 horas. Ela se recuperava na UTI do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde era assistida pela equipe do médico Roberto Kalil, mas não resistiu. Preta deixa o filho, Francisco Gil, de 29 anos — fruto do casamento com Otávio Müller –, e a neta, Sol de Maria, de 9.
Preta Maria Gadelha Gil Moreira nasceu em 8 de agosto de 1974, fruto do casamento de Gilberto Gil com Sandra Gadelha, com quem o músico também teve os filhos Pedro Gil — morto aos 19 anos em 1990 em um acidente de carro — e Maria Gil. Preta era afilhada de Gal Costa e considerava Caetano Veloso e Maria Bethânia seus tios. No dia em que Gilberto foi registrar o nome da rebenta, teve que discutir no cartório porque o tabelião não queria deixá-lo batizá-la de Preta, mas o artista protestou que nunca houve objeção com os nomes Branca, Bianca, Clara e Rosa, conseguindo cumprir seu objetivo.
A mais famosa dos oito filhos de Gilberto, Preta tentou uma breve carreira na publicidade e na produção de clipes musicais de artistas como Ivete Sangalo, Angélica, KLB e SNZ, mas iniciou sua carreira musical em agosto de 2003, quando lançou o álbum Prêt-à Porter, marcado pelo ensaio nu da cantora que preenchia a capa e o encarte do CD. Ela lançou o segundo disco, Preta, em setembro de 2005. Ao longo da vida, a cantora consolidou sua imagem como personalidade midiática, tendo sido foco de notícias centralizadas em seu corpo.
Preta sempre advocou contra o racismo, a gordofobia e a homofobia, principalmente em seus shows e através da criação do Bloco da Preta, um bloco de Carnaval fundado em 2010 que se tornou um dos maiores do Rio de Janeiro, arrastando mais de 2 milhões de pessoas pelas ruas da capital fluminense. O bloco foi vertido em um DVD em 2014, contando com participações de Lulu Santos, Ivete Sangalo, Anitta, Israel Novaes e Thiaguinho. A cantora também lançou os álbuns Sou como Sou, disco com composições de Ana Carolina, seu filho, Francisco, e seu pai, Gilberto, em 2012, e o Todas as Cores, em 2017.
Em 2017, Preta investiu no ramo empresarial ao fundar a agência de marketing de influência Mynd ao lado de Fátima Pissara, Carlos Scappini, Marcello Azevedo e Malu Barbosa, criando o selo Music2, especializado em música.
Na televisão, a artista também trabalhou como atriz, tendo participado de novelas como Agora é Que São Elas (2004), Caminhos do Coração (2007), Os Mutantes (2008); nas séries Ó Paí, Ó (2008), As Cariocas (2010); além de fazer participações como ela mesma em Cheias de Charme (2012) e em Pé na Cova (2013). Preta também foi apresentadora do Multishow, onde comandou o TVZ.
Em sua vida pessoal, a artista namorou com os atores Caio Blat e Paulo Vilhena, além do apresentador Marcos Mion. Ela foi casada por dois anos com Otávio Müller, com quem teve seu único filho, Francisco Gadelha Gil Moreira Müller de Sá, que nasceu em 1995. A cantora também foi casada com o mergulhador Carlos Henrique Lima e com o personal trainer Rodrigo Godoy, com quem ficou entre 2015 e 2023.
Em entrevista para a capa de VEJA em outubro de 2023, Preta Gil falou abertamente sobre os conselhos do pai sobre a finitude da vida, do divórcio em meio ao tratamento oncológico — quando ela descobriu uma traição do então companheiro –, e da importância da saúde mental durante aquele processo conturbado. Para aquela conversa, Preta recebeu a reportagem de VEJA em seu apartamento na zona oeste de São Paulo e, mesmo diante da situação delicada em que se encontrava — ainda usava sua bolsa de colostomia –, respondeu a uma intensa série de perguntas com bom humor, profissionalismo e carisma, disposta a mostrar sua vivacidade durante aquela jornada. Uma pessoa singular que fará falta a familiares, amigos e admiradores de sua força e talento.