Morreu neste sábado, 13, aos 95 anos, o jornalista, ator, pesquisador e especialista em carnaval Haroldo Costa. A informação foi confirmada pela família do artista e colegas nas redes sociais. Icônico comentarista nas transmissões dos desfiles de carnaval por décadas, Haroldo deixou uma extensa contribuição também em produções culturais e diversos livros em que discute o carnaval e a cultura negra no Brasil. O corpo será velado na segunda-feira na quadra da Salgueiro, na zona norte do Rio de Janeiro.
“Um intelectual negro que atravessou o teatro, a televisão, o rádio e a literatura sem nunca abrir mão de suas raízes, de sua identidade e de sua missão: defender a cultura do povo brasileiro”, escreveu a Salgueiro em uma homenagem ao artista em suas redes sociais. “Haroldo tornou-se uma voz respeitada no mundo carnavalesco, sempre contribuindo com olhar atento, conhecimento e profundo amor pelo carnaval”, escreveu a Império Serrano em uma publicação lamentando a notícia de sua morte.
Haroldo, filho de um alfaiate e uma dona de casa, nasceu em 13 de maio – mas foi registrado apenas em 21 de abril – de 1930, no Rio de Janeiro. Órfão de mãe desde os dois anos, viveu a infância com os avós e os tios em Maceió. Retornaria ao Rio com o pai aos dez anos, e foi lá onde desde cedo entrou em contato com as artes, o Carnaval eo movimento estudantil e onde construiu sua vida e sua carreira.
Foi no fim dos anos 1940 que conheceu o Teatro Experimental do Negro, grupo fundado em 1944 na capital fluminense pelo escritor e ativista Abdias Nascimento. Nos anos de 1950, Haroldo ajudaria a refundar o grupo em sua versão internacional, o Brasiliana, companhia com que viajaria ao longo de cinco anos se apresentando em diversos países da América Latina e da Europa.
Foi em uma dessa viagens, na Holanda, que encontrou Vinicius de Moraes e foi convidado pelo poeta e diplomata a participar do projeto de sua mais recente peça, “Orfeu da Conceição”. Haroldo protagonizou a icônica montagem, que estreou em 1956 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Faria os primeiros trabalhos para a TV também nos anos de 1950, com passagens pela TV Tupi, TV Rio e pela TV Excelsior. Participou das primeiras equipes fundadoras da TV Globo, em 1965, e trabalharia em diversos projetos da emissora ao longo das décadas seguintes. Nos anos de 1950 e 1960, dirigiu novelas como ‘Forrobodó’ e ‘Operação Amor em Suez’, os programas “Dercy Espetacular” e “Dercy Comédia”, estrelados por Dercy Gonçalves, além de participações como ator em produções como “A Moreninha”. Mais tarde, apareceria também na minissérie “Chiquinha Gonzaga”, de 1999, e na novela “Suburbia”, de 2012.
Foi no carnaval, entretanto, que se tornou uma das figuras mais marcantes, como comentarista dos desfiles e também integrante do corpo de jurados de diferentes organizações por mais de quatro décadas.
Entre os quinze livros que publicou, estão “Salgueiro: Academia de Samba”, que conta a história da escola, e “100 anos de Carnaval no Rio de Janeiro”. “Sempre me incomodou esse papo de democracia racial, essas coisas que têm oficialmente e que não correspondem à verdade”, disse ele em uma entrevista ao Museu da Pessoa, sobre o seu livro de 1982, “Fala crioulo: o que é ser negro”, em que reuniu os depoimentos de pessoas negras tanto famosas quanto desconhecidas, de diferentes classes sociais.