Em um dos capítulos mais surpreendentes do futebol brasileiro recente, o Mirassol, do interior paulista, confirmou sua presença na Copa Libertadores de 2026. A classificação, inédita na história do clube, veio de forma antecipada, após os resultados da 34ª rodada do Campeonato Brasileiro Série A 2025.
Atualmente na quarta colocação da tabela, com 60 pontos, a vaga foi matematicamente assegurada na quinta-feira, 20. O empate contra o Santos, somado à vitória do Corinthians por 3 a 1 sobre o São Paulo (o então oitavo colocado), impediu que qualquer equipe fora do atual G7 pudesse alcançar o “Leão Caipira”.
Com apenas quatro rodadas restantes (12 pontos em disputa), o Mirassol abriu uma vantagem de 14 pontos sobre o oitavo lugar. Segundo análises de probabilidade, o clube já possui 100% de probabilidade matemática de classificação para a Libertadores 2026.
O Mirassol, sediado em uma cidade com cerca de 70 mil habitantes, competiu na elite nacional com um orçamento modesto e um elenco sem grandes estrelas. Esse desempenho, que colocou a equipe à frente de gigantes com folhas de pagamento muito mais robustas, reacende o debate fundamental sobre como a organização, o planejamento e a entrega dos atletas podem superar a disparidade financeira.
Apesar da ausência de “galácticos”, a equipe contou com a liderança e o alto rendimento de veteranos. O principal nome em campo é o lateral-esquerdo Reinaldo, de 35 anos. Com ampla experiência, o atleta tem sido um motor ofensivo, participando diretamente de 18 gols da equipe no Brasileirão 2025, com 12 bolas na rede e seis assistências. Com essa performance, ele figura entre os dez maiores artilheiros da competição, ficando atrás apenas de atacantes e meias ofensivos de clubes de maior investimento.
No comando técnico, Rafael Guanaes, de 44 anos, implantou um modelo de jogo ousado, caracterizado pela posse de bola e marcação adiantada, uma postura menos reativa do que a comumente adotada por times de menor orçamento. Além disso, o fato de o Mirassol não ter disputado outras competições como a Copa do Brasil ou torneios continentais, permitiu que a equipe treinasse e descansasse mais, mantendo a intensidade e repetindo escalações, algo incomum na rotina do futebol nacional.
A campanha também se beneficiou da transformação do Estádio José Maria de Campos Maia, o “Maião”, em uma fortaleza. O Mirassol e o Flamengo são os únicos clubes invictos como mandantes no Brasileirão 2025, com o Leão Caipira somando 11 vitórias e 6 empates em 15 partidas em casa.
Desafios burocráticos
O clube agora enfrenta uma corrida contra o tempo para cumprir as exigências burocráticas da CONMEBOL, que obrigam os participantes a ter uma equipe feminina. Além disso, para mandar eventuais jogos de mata-mata no futuro, a capacidade do “Maião” precisa ser ampliada e modernizada para os 20 mil torcedores exigidos pela confederação, já que a capacidade atual é de 15 mil. O não cumprimento dessas exigências pode, teoricamente, fazer o clube perder sua vaga, beneficiando equipes subsequentes na tabela.
Animado com a perspectiva de enfrentar gigantes sul-americanos, o presidente Edson Ermenegildo manifestou o entusiasmo do clube: “Que venha o Boca!”. Ele também destacou a intenção de segurar cerca de 80% do elenco atual para que o time entre forte na Libertadores.