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Milei recebe José Antonio Kast e sinaliza novo eixo conservador no Cone Sul

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O presidente argentino Javier Milei recebe nesta terça-feira, ao meio-dia, na Casa Rosada, o presidente eleito do Chile, José Antonio Kast. O encontro marca um ponto de inflexão na política externa entre os dois países e sinaliza a consolidação de um novo alinhamento ideológico à direita na região, em contraste com o governo de esquerda que se encerra no Chile, liderado por Gabriel Boric.

Kast venceu a candidata governista com quase 60% dos votos, em uma eleição que reposiciona o Chile no tabuleiro político sul-americano. Em Buenos Aires, o governo argentino vê a chegada de Kast ao poder como uma oportunidade para estruturar uma aliança estratégica regional baseada em princípios comuns, como defesa da propriedade privada, agenda conservadora nos costumes, endurecimento migratório e políticas de segurança pública mais rígidas.

Segundo fontes da Casa Rosada, Milei considera Kast seu principal aliado regional. A sintonia entre os dois líderes é antiga e pública, ao contrário da relação fria e protocolar mantida por Milei com Boric, que jamais avançou para uma cooperação bilateral consistente.

Antes de embarcar para a Argentina, Kast afirmou que a reunião não terá um pedido específico, mas será uma conversa estratégica sobre a experiência argentina recente. Ele elogiou os esforços de Milei para reduzir a inflação e a pobreza extrema e destacou o combate ao crime organizado como uma área de aprendizado mútuo.

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A reunião está prevista para durar entre uma hora e uma hora e meia e terá três eixos centrais: economia, migração e segurança. Do lado argentino, devem participar o chefe de Gabinete, Manuel Adorni, o chanceler Pablo Quirno e a secretária-geral da Presidência, Karina Milei. Não estava confirmada, até a divulgação da agenda, a presença do ministro da Economia, Luis Caputo.

Nos bastidores, a visita também despertou especulações sobre uma possível tentativa de Kast de atrair o economista José Luis Daza, hoje secretário de Política Econômica da Argentina e aliado próximo de Caputo, para integrar ou assessorar o futuro governo chileno. O próprio Caputo admitiu recentemente que existe a possibilidade de Daza deixar o governo argentino.

A delegação que acompanha Kast inclui nomes de peso do empresariado chileno, como executivos ligados aos grupos Luksic e Matte, além de representantes de entidades empresariais. A agenda prevê ainda um almoço com empresários argentinos, organizado pela Fundação IRSA, e um encontro com o embaixador chileno em Buenos Aires.

A aproximação entre Milei e Kast não é recente. Eles se conheceram em 2022, durante a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), ao lado de Eduardo Bolsonaro. Em 2023, ainda como candidato, Milei recebeu apoio explícito de Kast, que o descreveu como “um leão que está fazendo história”. Após a vitória do argentino, Kast participou da posse em Buenos Aires e de encontros privados com dirigentes do partido governista La Libertad Avanza.

Durante a campanha presidencial chilena, Kast citou reiteradamente a Argentina como referência de disciplina fiscal e prometeu aplicar um ajuste severo nos gastos públicos, em linha com o receituário liberal de Milei.

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O ângulo brasileiro

No Brasil, a vitória de Kast foi recebida com cautela pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Palácio do Planalto divulgou uma nota protocolar parabenizando o presidente eleito do Chile e reiterando o compromisso histórico do Brasil com a democracia e a integração regional, sem menção direta à agenda política de Kast. A postura reflete a distância ideológica entre Lula e o novo governo chileno.

Kast, por sua vez, mantém uma posição crítica em relação a Lula. Ao longo dos últimos anos, fez declarações duras contra governos de esquerda na América Latina, incluindo o brasileiro, que associa a um projeto “estatizante” e permissivo em temas como segurança pública e política econômica. Em contraste, o chileno mantém proximidade política e simbólica com o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados, tendo participado de eventos internacionais do campo conservador ao lado da família Bolsonaro.

A convergência entre Milei, Kast e o bolsonarismo aponta para a tentativa de construção de um eixo conservador liberal no Cone Sul, em oposição direta aos governos progressistas da região. Ainda que esse alinhamento não se traduza imediatamente em blocos formais, ele redesenha o clima político sul-americano e tende a tensionar espaços tradicionais de coordenação regional, como o Mercosul e a Unasul.

Com a posse de Kast, a relação entre Argentina e Chile entra em uma nova fase de proximidade ideológica inédita nos últimos anos, enquanto o Brasil de Lula passa a ocupar uma posição mais isolada nesse novo arranjo político à direita que começa a se desenhar no sul do continente.

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