Após cinco dias de silêncio, o presidente argentino, Javier Milei, saiu em defesa da irmã Karina Milei, secretária-geral da Presidência, nesta segunda-feira, 25, em meio a suspeitas de uma rede de corrupção na compra estatal de medicamentos, envolvendo contratos da Administração Nacional de Serviços de Saúde (Andis).
Em um comício realizado em Junín, província de Buenos Aires, durante apresentação dos candidatos do partido La Libertad Avanza para as eleições legislativas, Milei criticou o kirchnerismo de “semear o caos descaradamente” e elogiou sua irmã Karina, que foi implicada nas alegações. “Obrigada, chefe!”, gritou Milei, referindo-se à irmã. O presidente não mencionou diretamente as acusações de corrupção.
Nesta terça-feira, o presidente argentino compartilhou no Instagram um comunicado da Suizo Argentina, acusada de intermediar supostas propinas. A empresa afirmou estar “à plena disposição” da Justiça para esclarecer os fatos e destacou sua atuação histórica “com transparência e responsabilidade social”. Apesar de divulgar a nota, Milei não fez comentários próprios sobre o caso.
Entenda o caso
O epicentro da denúncia é a Agência Nacional para a Deficiência (Andis), que foi chefiada por Diego Spagnuolo até poucos dias atrás, quando foi destituído em meio à polêmica. Agentes privados também foram acusados de supostamente abocanhar grande parte do mercado de medicamentos em troca de pagamentos a funcionários do governo.
O gatilho foi o vazamento de gravações de áudio nas quais uma voz, atribuída a Spagnuolo, detalha um suposto sistema de retorno de 8% sobre a compra de medicamentos. As gravações apontam Eduardo “Lule” Menem, assessor presidencial, como o suposto organizador do esquema e mencionam Karina Milei como a suposta destinatária de 3% das propinas. A resposta do governo foi exonerar Spagnuolo “preventivamente”, intervir na Andis por 180 dias e nomear um auditor, Alejandro Vilches.
Na esfera judicial, a investigação está sendo conduzida pelo promotor Franco Picardi, que ordenou 15 buscas e apreensão de US$ 266 mil (quase R$ 1,5 milhão) em poder do empresário Emmanuel Kovalivker, diretor da farmacêutica Suizo Argentina.
Os áudios vazados
Nas gravações divulgadas pela mídia argentina, uma voz, que se acredita ser a de Spagnuolo, conta a uma pessoa não identificada sobre um suposto desfalque na Andis. Os áudios apontam Lule Menem como o responsável por organizar um esquema de propina para a compra de medicamentos. Reportagens detalham um suposto aumento na “comissão” das vendas de certas farmacêuticas para os políticos beneficiados — de 5% para 8%.
A disseminação do material de origem ilegal gerou uma crise imediata dentro do governo, uma vez que os áudios indicam a concessão de contratos estatais multimilionários a empresas em troca de suborno.
Quem é Diego Spagnuolo?
Advogado, Spagnuolo se conectou com Javier Milei nas redes sociais antes da carreira política do presidente. Ele ocupou um cargo nominal na lista para o Congresso de 2021 e atuou como seu representante em vários processos judiciais.
Milei o nomeou para chefiar a Andis assim que chegou à Casa Rosada, sem que Spagnuolo tivesse qualquer experiência anterior na área. Registros oficiais o colocam como uma das quatro pessoas com mais visitas à Quinta de Olivos, residência oficial do presidente da Argentina, no segundo semestre de 2024.
A investigação
Um processo foi iniciado a partir de uma denúncia do advogado Gregorio Dalbón. Em uma das operações ordenadas pelo Ministério Público, o empresário Emmanuel Kovalivker, diretor da Suizo Argentina, foi flagrado tentando sair de sua casa em Nordelta com dinheiro e documentos contendo anotações.
As autoridades também apreenderam o celular de Spagnuolo. De acordo com a gravação atribuída a ele, a Suizo Argentina era responsável por coletar as supostas propinas de outros fornecedores para entregá-las às autoridades.
Contratos da Suizo Argentina com o Estado
A Suizo Argentina SA, mencionada em um dos áudios atribuídos a Spagnuolo, multiplicou seus negócios com o Estado no último ano: passou de contratos assinados no valor de US$ 3,898 bilhões em 2024 para US$ 108,299 bilhões até agora neste ano.
Ou seja, é um salto de 2.678% nos contratos públicos conquistados pela empresa. Os números são provenientes das licitações públicas e privadas originais e dos contratos diretos obtidos pela empresa, que estão disponíveis no site oficial do Compr.Ar.
A empresa presta serviços de armazenamento e logística para medicamentos e produtos de saúde, entre outros, e é líder no setor farmacêutico. Como parte da investigação iniciada após a eclosão do caso, o Ministério da Justiça realizou buscas na residência de seus funcionários na última sexta-feira.