Esposa de Jair Bolsonaro (PL), Michelle Bolsonaro leu uma carta pública direcionada ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no sábado, 12, durante um evento no Acre. No documento, a ex-primeira dama fez uma série de críticas ao petista, o acusando de buscar um desejo de vingança, citou o tarifaço de Donald Trump ao Brasil — aplicada pelo presidente americano em defesa de Bolsonaro — e apelou para que o político “baixe as armas da provocação” pois está na “hora de hastear a bandeira do diálogo e da paz”.
“A situação atual do Brasil e as sanções americanas. Essa carta é para o presidente Lula. Presidente Lula, esses tipos de sanções só foram aplicadas, até hoje, a países reconhecidos como ditaduras. O Brasil vive um período muito difícil com relação aos direitos fundamentais. Há uma ditadura disfarçada de democracia. Os ditadores agem como uma cobra traiçoeira que se enrola divagar e sufoca sua vítima. Quando ela percebe, é tarde demais. Lula, você precisa parar de se guiar por ideologias doentias e pelo desejo de vingança”, começou Michelle, ao lado de apoiadores.
“É preciso governar para obter o que é melhor para o povo e para o Brasil. Chega de ódio e de irresponsabilidade. Lula, pare com suas provocações, seus atos e palavras. O Brasil não precisa de discursos cheios de raiva. O nosso povo precisa de cuidado e de um governo responsável. Abandone as perseguições e comece a trabalhar pela unidade e pela verdadeira liberdade do nosso povo. Lula, é tempo de assumir os erros, de se arrepender, de pensar no povo”, continuou ela.
Em seguida, Michelle pediu para que o presidente “baixe as armas da provocação e deixe o desejo de vingança de lado”, além de acusar Lula de se juntar a movimentos terroristas e ditadores. “Presidente Lula, você tem a oportunidade de evitar essas sanções. Não queira imitar Cuba e Venezuela, veja como o povo desses países sofrem. Lula, abandone essa tendência ditatorial. É hora de baixar as armas da provocação, cessar os tambores das ofensas e de hastear a bandeira do diálogo e da paz”, concluiu Michelle, antes de encerrar com uma citação religiosa.
Boa parte da carta de Michelle é uma resposta aos discursos irônicos do presidente Lula sobre a família Bolsonaro. Discursando em evento no Espírito Santo pela assinatura do acordo de reparação da Vale a pescadores e agricultores da bacia do Rio Doce na última sexta-feira, 11, o petista enfileirou provocações e recados a Trump, além de ironias sobre a atuação da família Bolsonaro em busca de sanções ao Brasil.
Lula citou a vantagem americana sobre a economia brasileira na balança comercial – que chega, segundo ele, a 410 bilhões de dólares em quinze anos – e declarou: “Eu é que deveria taxar ele (Trump).” Ao abordar as razões que o presidente dos EUA aponta para a sobretaxa, Lula afirmou que a primeira, de um desequilíbrio inexistente da balança comercial entre os dois países, é “uma mentira”, e a segunda seria exigir que o processo contra Jair Bolsonaro “pare imediatamente”.
Ele também fez imitações jocosas em alusão ao deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, que afirma estar vivendo em “autoexílio” nos EUA para fugir de uma suposta “perseguição política” do STF. “A coisa mandou um filho, que é deputado, se afastar da Câmara para ir lá ficar pedindo: ‘Trump, pelo amor de Deus, salva meu pai’”, disse o petista, alterando a voz. “É preciso essa gente criar vergonha na cara”, acrescentou.
Tarifaço de Trump
Na quarta-feira, 9, em uma postagem em sua rede social, Trump publicou que produtos brasileiros serão submetidos a uma tarifa extra de 50% a partir de agosto e justificou a ofensiva como resposta a uma pretensa perseguição judicial contra Bolsonaro, resumida por ele como uma “vergonha internacional”, uma “caça às bruxas” que precisa ser estancada IMEDIATAMENTE – assim mesmo, em letras garrafais. No Supremo, a ofensiva de Trump não mudou um milímetro a disposição de julgar Bolsonaro entre o final de agosto e o início de setembro.
No mesmo dia em que Donald Trump postou a primeira mensagem de apoio a Bolsonaro, Alexandre de Moraes atendeu a um pedido da Polícia Federal e determinou a prorrogação por mais 60 dias do inquérito em que Eduardo Bolsonaro é investigado pelos crimes de coação, obstrução de justiça e abolição do Estado Democrático por articular junto aos Estados Unidos sanções contra o ministro. Moraes também avançou com o processo da trama golpista e marcou o depoimento de testemunhas de réus que, entre outros pontos, são acusados de planejar o assassinato do presidente Lula e do próprio juiz do STF.
No campo político, setores conhecidamente simpáticos ao capitão criticaram o tarifaço. A Frente Parlamentar da Agricultura, por exemplo, disse que “a nova alíquota produz reflexos diretos e atingem o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras”.