counter Michael Sheldrick, fundador do Global Citizen, a VEJA: ‘Queremos que o mundo apoie o Brasil’ – Forsething

Michael Sheldrick, fundador do Global Citizen, a VEJA: ‘Queremos que o mundo apoie o Brasil’

Neste sábado, 1 de novembro, ocorre a primeira edição do Global Citizen Festival na América Latina, que carrega em seu subtítulo uma parte essencial de sua missão: a Amazônia. Fundada em 2008 por Hugh Evans, Michael Sheldrick, Simon Moss e Wei Soo, a organização americana trabalha junto das Nações Unidas e de lideranças diversas de todo o globo para combater a pobreza extrema — e as mazelas que as inflam. Nisso, entra a luta por justiça climática e pela preservação do meio ambiente e de seus povos originários.

Unidos à causa estão os artistas Seu Jorge, Gilberto Gil, Anitta, Gaby Amarantos e Chris Martin, do Coldplay, que se apresentam a partir de 17h30 no Estádio Olímpico do Pará, o Mangueirão. Além deles, serão destacadas lideranças indígenas e outras figuras públicas alinhadas à pauta.

A operação é, delicada, gigantesca e exige planejamento cuidadoso em nome de seus princípios sustentáveis. Em entrevista a VEJA, Sheldrick — que é também diretor de política, impacto e relações governamentais do movimento —, detalha os bastidores, os efeitos já alcançados e a mensagem do festival, que ocorre nove dias antes da Cop 30:

Como você explicaria, em suas próprias palavras, a conexão entre o combate à pobreza extrema e a justiça climática? O Global Citizen é um movimento de 12,5 milhões de pessoas trabalhando por um mundo sem pobreza extrema. E acreditamos que essa conexão pode ser vista de duas formas. Primeiro, os impactos das mudanças climáticas — cada grau que o planeta aquece tem consequências graves, e são justamente as comunidades que vivem em pobreza extrema que sofrem mais. Por isso, elas precisam se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas. E é por isso que eu aplaudo a presidência brasileira, que colocou a adaptação no centro da sua agenda. Eles reconhecem que a melhor forma de construir resiliência é investir em esforços para acabar com a pobreza extrema.

Em segundo lugar, sabemos que um elemento crucial para combater a pobreza é criar empregos e garantir acesso à energia. Energia é vida. Pense no continente africano, onde 600 milhões de pessoas não têm acesso confiável e acessível à energia. Não podemos permitir que a ação climática signifique sacrificar o sustento de milhões de pessoas em nome da ciência do clima. É por isso que também fazemos campanha pelo acesso à energia para milhões de pessoas. Esse é o verdadeiro coração da equidade e de uma resposta justa à crise climática.

Continua após a publicidade

Você mencionou a presidência brasileira. Como tem sido essa colaboração com as lideranças do país? Nossas parcerias no Brasil começaram antes da atual presidência e antes mesmo de a COP30 ser marcada para acontecer aqui. Há cerca de quatro ou cinco anos, recebemos um convite de comunidades indígenas para apoiar seus esforços de proteção da Amazônia e de investimento em suas comunidades. Quando a COP30 foi confirmada para a região, essas comunidades nos disseram: “Essa é uma oportunidade incrível, mas apenas se tivermos uma plataforma para cobrar investimentos dos governos”. Tivemos a honra de atender a esse chamado. Uma das principais prioridades do festival é justamente oferecer esse palco para que as comunidades possam se dirigir aos líderes e fazer suas vozes ecoarem nos corredores do poder. Esperamos que governos como os do Reino Unido, França, Alemanha e Noruega respondam a esse chamado. Também estamos pedindo que empresas e fundações contribuam com 1 bilhão de dólares como parte da campanha Protect the Amazon (Proteja a Amazônia). Todos nós, no mundo inteiro, nos beneficiamos dos bens públicos globais que as comunidades amazônicas protegem. Esta é uma oportunidade de mostrar solidariedade investindo em suas soluções — como o ecoturismo e o uso sustentável de ingredientes naturais, que podem ser aplicados em produtos que vão desde sabonetes até cidra de mel feita com abelhas da Amazônia. Fala-se muito em bioeconomia, mas ela só prosperará com investimento.

Há algo em especial que tenha aprendido com as comunidades indígenas locais? Uma das coisas que mais me impressionou é que, de fora, as pessoas tendem a ver a Amazônia separada de quem vive nela. Pensam nas árvores e nas florestas, mas não nas pessoas. Se a Amazônia fosse um país, teria uma população maior do que a da Austrália de onde venho. É impressionante a riqueza cultural, a música e a comida. Também há uma narrativa comum de que pessoas em situação de pobreza são responsáveis pelo desmatamento e pela mineração ilegal quando, na realidade, muitas dessas comunidades têm soluções incríveis. Visitei várias startups e empreendimentos indígenas que estão buscando investimento — não caridade, investimento. Isso é inspirador.

Lembro de uma visita a uma fábrica onde produzem manteiga de tucumã. Eles firmaram uma parceria com uma grande marca de cosméticos e bem-estar. Em vez de usar óleo de palma, que é extremamente destrutivo quando produzido em larga escala, essa empresa substituiu o ingrediente por manteiga de tucumã. Disseram-me que, se conseguissem incluir apenas 1 grama de manteiga de tucumã em um terço do mercado americano de sabonetes, isso garantiria renda sustentável para 3.000 famílias amazônicas. É um exemplo poderoso. Quando pedimos 1 bilhão de dólares, pode parecer muito, mas é uma fração do que o mundo gasta em defesa militar. Isso não é caridade; é investimento em autossuficiência, geração de empregos e desenvolvimento local. A melhor estratégia de conservação é investir em pessoas.

Continua após a publicidade

O festival não vende ingressos, mas convida as pessoas que querem participar a agir. Já é possível medir o impacto dessa campanha no Brasil? Sim. Poucas semanas após o anúncio, milhões de pessoas começaram a agir e baixaram nosso aplicativo oficial. Em determinado momento, 40% de todas as ações globais vinham do Brasil — e cerca de 72% delas eram de pessoas da região amazônica. Essas ações vão desde baixar o app e aprender mais até cobrar líderes e empresas a se comprometerem. Neste sábado, teremos vários anúncios importantes: empresas como o Pele Energy Group, o Grupo Energia e outras farão compromissos significativos, e esperamos também respostas de alguns governos.

Grandes festivais normalmente têm uma enorme pegada de carbono e geram muito desperdício. Como vocês mostram que é possível realizar um evento sustentável? No Global Citizen, colocamos em prática o que pregamos. Trabalhamos com nossos parceiros para tornar este festival um dos eventos mais sustentáveis já realizados na Amazônia. Mesmo em Nova York, reduzimos nossa pegada de carbono ao longo dos anos por meio de várias iniciativas, como o uso de baterias carregadas por energia renovável, biodiesel e painéis solares. As emissões que não podem ser eliminadas são compensadas por meio de parcerias locais com organizações que apoiem projetos legítimos na região.

Um ótimo exemplo é o Coldplay, que reduziu em 59% as emissões de sua turnê sem comprometer o espetáculo. Isso inspira as pessoas. Quando alguém vai a um festival e vê medidas concretas sendo tomadas, entende que suas próprias ações também podem fazer diferença. Precisamos de mudanças sistêmicas. A crise climática e a pobreza extrema são desafios estruturais — e, portanto, exigem soluções estruturais.

Continua após a publicidade

Chris Martin escreveu pessoalmente às presidências da França e da Alemanha para garantir compromissos com o Fundo Amazônia. Como é trabalhar com ele?
Chris Martin colabora com o Global Citizen há mais de uma década e realmente se importa com essas causas, assim como todos os artistas do festival. Eles foram convidados pelas comunidades indígenas e aderiram à campanha com esse espírito de parceria, cobrando governos como os da França, Alemanha e Reino Unido, além de empresas. No sábado, muitos dos compromissos anunciados virão de empresas e fundações, o que mostra que o setor privado está respondendo ao chamado. Mas, antes da COP30, também precisamos que os governos assumam compromissos concretos.

Como tem sido a colaboração com artistas brasileiros? Era essencial que, por ser o primeiro Global Citizen Festival na América Latina, ele tivesse protagonismo brasileiro. Queríamos que o mundo visse e ouvisse o Brasil antes da COP30. O entusiasmo é contagiante. O engajamento dos brasileiros tem sido extraordinário. O Global Citizen é um movimento global — estamos ativos em todo o mundo e, no próximo ano, produziremos o primeiro show do intervalo da final da Copa do Mundo —, mas este evento no Brasil é especial. Queremos que o mundo veja isso e se sinta motivado a apoiar o país.

Vivemos tempos difíceis, e muitas pessoas acreditam que o planeta já passou do ponto de não retorno. O que você diria a quem sente que não há mais o que fazer? Vivemos uma era de desânimo. Muitas pessoas, de todas as idades, duvidam de que suas ações façam diferença. Mas este é um momento único na história: as decisões que tomamos hoje determinarão o futuro das próximas gerações, das pessoas que nascerão daqui a 5, 10 ou 50 anos. Estar vivo agora é um presente. Se você sempre quis viver uma vida com propósito, nunca houve tanta oportunidade para fazer a diferença quanto hoje.

Continua após a publicidade

A grande Jane Goodall entendia isso. Ela dizia que, quando você acorda, faz uma escolha que impacta quem está ao seu redor. Nossas escolhas importam. Os “global citizens” que agem e veem resultados provam que é possível transformar realidades. Às vezes, o mais difícil é saber por onde começar, e é para isso que existe a nossa plataforma. Uma das minhas citações favoritas é da Eleanor Roosevelt, que disse: “A maneira de começar é começar.” Baixar o aplicativo Global Citizen é um ótimo primeiro passo para descobrir como suas ações podem mudar o mundo.

Acompanhe notícias e dicas culturais nos blogs a seguir:

  • Tela Plana para novidades da TV e do streaming
  • O Som e a Fúria sobre artistas e lançamentos musicais
  • Em Cartaz traz dicas de filmes no cinema e no streaming
  • Livros para notícias sobre literatura e mercado editorial
Publicidade

About admin