Quando o aventureiro alemão Hans Staden chegou ao Brasil, em 1557, ficou maravilhado com a abundância de diversidade da Mata Atlântica. Em seu livro Duas Viagens ao Brasil, descreve: “A terra é coberta de árvores e matas tão densas que apenas se pode andar nelas; em toda parte há flores e frutos que não se encontram na Alemanha, e aves de cores maravilhosas.” Apesar da beleza e riqueza de recuros, a região foi reduzida a apenas um terço. A devastação fez com que a Mata Atlântica se tonasse o bioma com a menor cobertura vegetal nativa de todo o país. O cenário de Staden deu lugar a atividades humanas variadas, principalmente a agricultura, realizada hstóricamente com técnicas não sustentáveis, o que deixa de unir o melhor de dos dois mundos: floresta em pé e áreas produtivas. Hoje a região concentra 30% de toda a área de cultivo do país.
Os dados são do mais recentes levantamento do MapBiomas sobre a Mata Atlântica, da Coleção 10 de mapas de cobertura e uso da terra, lançada nesta terça-feira, 28. “A vegetação natural foi suprimida para abrir espaço para atividades humanas desde o início da colonização”, diz Natalia Crusco, diz a pesquisadora da equipe Mata Atlântica da entidade. Quando a empresa começou o monitoramento do uso da terra, em 1985, a região tinha apenas 27% da florestal original . De lá para cá, o ritmo de desmatamento mudou, em cada uma das quatro décadas, até 2024.
Lei da Mata Atlântica dá impulso a regeneração
O grande massacre da região se deui entre 1985 e 1994. Neste período, a agropecuria tomou 4,7 milhões de hectares de florestas, que equivalem a uma redução de 7%. Entre 1995 e 2004, veio uma fase melhor. A área desmatada caiu para 2,9 milhões de hectares de florestas, 40% em relação à década anterior. Tudo foi transformado em pastos e campos de cultivo. Entre 2005 e 2014 é possível notar os efeitos da Lei da Mata Atlântica, que possibilitou que a área de recuperação fosse maior que a área de conversão de florestas, com ganho líquido de 200 mil hectares. Entre 2015 e 2024, o cenário voltou a exigir atenção: as áreas de desmatamento e de recuperação se tornam equivalentes, mesmo após a aprovação do Código Florestal, em 2012, que tinha o potencial de impulsionar uma retomada da regeneração.
Balanço
Nesses 40 anos, a perda de área florestal foi de 2,4 milhões de hectares, uma redução de 8,1% em relação à área de florestas mapeada em 1985. Apesar da queda no ritmo do desmatamento registrada entre 1985 e 2024, os últimos 5 anos, houve perda média anual de 190 mil hectares de floresta po. Cerca de 50% do desmatamento registrado em 2024, ainda acontece em florestas maduras ( com mais de 40 anos), que carregam grande parte da biodiversidade, estoque de carbono e são as principais responsáveis pelos serviços ecossistêmicos desempenhados pela floresta.
A área de formação campestre, por sua vez, sofreu uma redução de 28% em relação a 1985, desde 2000. A conversão foi mais acelerada na última década, com média anual de redução de 38 mil hectares. Nos últimos 24 anos, cerca de 15% do desmatamento de vegetação primária no bioma ocorreu em áreas de formação campestre. Quando considerados todos os tipos de vegetação nativa, a perda foi de 11,5% entre 1985 e 2024.
Apenas Rio de Janeiro e São Paulo apresentaram aumento na área de vegetação nativa no período. Os estados com maior presença de território de Mata Atlântica são Santa Catarina (45%), Rio Grande do Sul (40%) e Bahia (39%).