A expectativa da ampla maioria dos economistas, investidores e agentes do mercado é que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha a taxa básica de juros, Selic, em 15% ano no início da noite desta quarta-feira, 30. As apostas do mercado indicam que o comitê vai confirmar a indicação de interrupção do movimento de alta dos juros iniciado, na gestão de Roberto Campos Neto, antecessor de Gabriel Galípolo. Desde setembro, a taxa Selic subiu 4,5 pontos percentuais e chegou ao maior patamar quase 20 anos.
Na última reunião, quando elevou a Selic a 15% ao ano, o comitê sinalizou que faria a pausa no aperto monetário para “examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”.
Apesar da alta dos juros, a inflação segue fora do parâmetro definido pelo governo. Nos últimos 12 meses, o IPCA, índice que mede a inflação oficial do Brasil, acumula alta de 5,35%, bem acima do teto da meta. Para 2025, o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu meta de 3% de inflação com limite de tolerância até 4,5%.
Com a mudança da meta anual para contínua, o presidente do Banco Central é obrigado a justificar o estouro da meta em cara enviada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Galípolo, indicado de Lula à presidência do BC, já escreveu duas cartas a Haddad, com as razões para o índice estar descolado da meta. Esse sistema prevê que o presidente do BC preste contas ao governo se a inflação se mantiver acima do teto da meta por seis meses consecutivos.
A mediana das projeções do mercado é de estouro da meta, ainda que nos últimos dois meses tenham sido revisadas para baixo.. Segundo a pesquisa semanal feita pelo BC no mercado, a inflação em 2025 será de 5,09%, e a Selic mantida em 15% ao ano.
Foco do mercado é o comunicado que será divulgado
Para Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, o Copom deve manter a Selic em 15% ao ano até o início de 2026, com possibilidade de cortes apenas a partir do primeiro trimestre de 2026, caso o quadro inflacionário demonstre desaceleração consistente. Sung confirma que manutenção já é amplamente esperada. “O foco do mercado se volta ao comunicado, no qual o Comitê deve manter um tom firme, reforçando seu compromisso com o controle da inflação e a preservação da sua credibilidade”, diz.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, também espera manutenção da taxa e acredita que o Copom deverá manter o tom mais rígido no comunicado, indicando que a Selic permanecerá restritiva por um período prolongado. “A incerteza no cenário permanece elevada, com sinais de moderação na atividade e perspectiva de inflação menor em 2025, como observado pelas recentes revisões no Focus”, afirma. Rafaela avalia que “a expectativa para 2026 segue elevada e o risco no cenário externo e doméstico deve manter o Copom cauteloso.”
A análise de Natalie Victal, da SulAmérica Investimentos, corrobora essa visão. “Nosso cenário base é de manutenção da Selic, com um comunicado bastante semelhante ao anterior, reforçando a estratégia de manter os juros em patamar significativamente contracionista por um período prolongado.” Ela espera uma possível leitura mais suave, chamada de “dovish” pelo mercado. Isso caso o Banco Central reconheça mais explicitamente a desaceleração econômica e os sinais de melhora na inflação corrente, ou destaque o risco baixista para a inflação devido à guerra comercial e seus impactos sobre a atividade econômica, segundo ela.