Um novo conjunto de dados e um mapa de alta resolução acabam de redesenhar a compreensão sobre como os romanos se deslocavam pelo vasto território do Império no século II d.C. A pesquisa, publicada na revista Scientific Data, apresenta o Itiner-e, um mapeamento digital que adiciona mais de 100 mil quilômetros de rotas ao que se sabia até agora — um acréscimo equivalente a mais de 12 viagens entre São Paulo e Nova York.
No auge, por volta do ano 150 d.C., o Império Romano reunia cerca de 55 milhões de habitantes e se estendia do atual Reino Unido ao Egito e à Síria. A rede de estradas foi essencial para integrar províncias distantes, abastecer cidades, movimentar legiões e impulsionar o comércio. Ainda assim, esse sistema permanecia pouco detalhado nos mapas modernos, e versões digitais existentes tinham baixa resolução.
Como esse mapa foi reconstruído?
O Itiner-e foi desenvolvido a partir da combinação de registros arqueológicos e históricos, mapas topográficos e imagens de satélite. O resultado cobre quase 4 milhões de quilômetros quadrados e identifica 299.171 quilômetros de vias — muito acima da estimativa anterior de 188.555 quilômetros. O avanço ocorreu principalmente por causa do mapeamento mais completo de trechos antes ignorados na Península Ibérica, Grécia e Norte da África.
Outro ponto decisivo foi a correção dos trajetos. Em vez de representar linhas retas cortando montanhas, como alguns mapas antigos sugeriam, o novo levantamento ajusta os caminhos para rotas plausíveis, seguindo curvas e contornos reais do terreno.
Por que esse mapa importa hoje?
Os pesquisadores afirmam que o Itiner-e é o mapeamento digital aberto mais completo já produzido sobre a malha viária romana. A ferramenta não mostra as mudanças ocorridas ao longo dos séculos, mas abre espaço para novos estudos sobre o impacto das estradas na circulação de pessoas, mercadorias e informações, sobre o papel dessa infraestrutura na administração imperial e sobre sua influência em rotas de migração e de expansão territorial. O material também pode ajudar a entender como doenças se espalhavam pela Antiguidade, acompanhando o fluxo das vias.