Um carro do Exército foi incendiado por manifestantes nas proximidades da residência do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, nesta quarta-feira, 3. O episódio acontece em meio a protestos em todo o país contra a convocação de reservistas para uma ofensiva na Cidade de Gaza que pode colocar em risco a vida dos reféns que ainda estão em posse do Hamas.
Os organizadores do “dia da interrupção” buscam pressionar o governo a negociar um acordo para libertar os 48 israelenses mantidos em cativeiro, vinte dos quais acredita-se estarem vivos. A iniciativa marcou protestos próximos a residências e escritórios de altos funcionários da administração, subindo o tom contra as ações militares em Gaza. Isso gerou críticas imediatas por parte das autoridades.
Uma quantidade significativa de manifestantes se reuniu no entorno da residência oficial de Netanyahu nesta quarta para apresentar suas reivindicações. No entanto, o movimento acabou levando ao incêndio de caçambas e pneus. O fogo se alastrou, e acabou consumindo o carro de uma reservista das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês).
“Nosso carro sumiu. Apoiamos os reféns e as famílias, mas isso causa ódio”, disse a proprietária do carro incendiado, Tamar Bar Shai, cujo marido foi convocado como reservista para uma nova missão em Gaza na próxima semana.
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Outros veículos foram danificados em diferentes regiões de Jerusalém, e embora ninguém tenha ficado ferido, a polícia local informou que moradores tiveram que ser evacuados por segurança. “Temos que tomar uma atitude extrema para que alguém se lembre”, justificou o manifestante Yael Kuperman, em declaração à emissora pública Kan. “Não existe tal coisa como um Estado abandonando seus cidadãos”, completou.
As autoridades locais definiram os incêndios como uma “linha vermelha” que foi cruzada e “crime disfarçado de protesto”. Segundo a emissora israelense Canal 12, o serviço de inteligência do país, o Shin Bet, está auxiliando as forças de segurança a identificarem os responsáveis pelo episódio.
Mesmo com os responsáveis pela mobilização repudiando publicamente os incêndios, aliados de Netanyahu rapidamente associaram as ações aos manifestantes. O gabinete do primeiro-ministro também teceu críticas à procuradora-geral do país, Gali Baharav-Miara, por ditar “a aplicação seletiva de medidas criminosas”.
Nas redes sociais, membros do alto escalão político de Israel fizeram declarações estridentes sobre o incidente. De acordo com o presidente do Knesset, Amir Ohana, os “criminosos desprezíveis que incendiaram Jerusalém hoje e buscam incendiar o país inteiro teriam sido presos e punidos com todo o rigor da lei se tivessem ateado fogo perto da casa da Sra. Baharav-Miara”.
היועצת המשפטית למחאה, הגברת בהרב-מיארה, באוזלת ידה ובאכיפתה הבררנית, שורפת את המדינה.
סעיף 448 לחוק העונשין קובע כך:
״המשלח אש במזיד בדבר לא לו, דינו – מאסר חמש עשרה שנים״.
עבירת ההצתה היא פשע חמור מאוד והענישה בהתאם. היא איננה מותנית בנזק, אלא בעצם ההצתה – משום שאנחנו… pic.twitter.com/T72L1xlLPX
— Amir Ohana – אמיר אוחנה (@AmirOhana) September 3, 2025
Já o ministro da Cultura, Miki Zohar, afirmou que “o inimigo está esfregando as mãos de prazer com essas imagens” e pediu que medidas duras sejam aplicadas contra “manifestantes violentos”.
ישראל היא מדינת חוק ואסור שתהיה פה אנרכיה. חובה לנקוט יד חזקה כנגד הפורעים האלימים ששורפים רכבים וחוסמים כבישים. האויב חוכך ידיו בהנאה מול התמונות האלה ואסור לנו לתת לזה לקרות. pic.twitter.com/iI4aFAPjsC
— Miki Zohar מיקי זוהר (@zoharm7) September 3, 2025
Por sua vez, o líder da oposição Yair Lapid disse condenar as ações desta quarta, mas que repudia “muito mais um governo que abandona reféns para a morte em Gaza”.
אני מגנה את הצתת הרכבים בירושלים, אבל מגנה הרבה יותר ממשלה שמפקירה חטופים למותם בעזה.
— יאיר לפיד – Yair Lapid (@yairlapid) September 3, 2025
Ofensiva na Cidade de Gaza
Com objetivo declarado de assumir o controle total da Faixa de Gaza, Israel iniciou sua ofensiva a partir da Cidade de Gaza. De acordo com moradores, as IDF enviaram veículos blindados antigos até o bairro de Sheikh Radwan na segunda-feira e acionaram explosivos remotamente na região. A ação destruiu várias casas e fez com que mais famílias tivessem que fugir em busca de abrigo.
Embora a cúpula militar tenha alertado que a ofensiva pode colocar em risco a vida dos reféns restantes em Gaza, algo que vem despertando ondas de protestos em diversas cidades israelenses, o governo do premiê segue firme em sua decisão de prosseguir com a incursão militar. No último domingo, Netanyahu se reuniu com seu gabinete de segurança para definir estratégias militares referentes à ofensiva.