Ao menos 613 palestinos foram mortos após forças israelenses abrirem fogo perto de centros de distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, disse o escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas nesta sexta-feira, 4. A contagem teve como base informações de hospitais, cemitérios, famílias, autoridades de saúde palestinas, ONGs e parceiros da ONU na região.
A maioria das mortes (509) ocorreu em pontos de distribuição da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), um grupo privado americano apoiado por Israel e pelos Estados Unidos. A agências das Nações Unidas e outras organizações de ajuda humanitária, no entanto, criticam o trabalho da GHF em Gaza devido a sua ineficácia e por usar seguranças armados, colocando civis em risco.
“Registramos 613 assassinatos, tanto em pontos do GHF quanto perto de comboios humanitários — este é um número de 27 de junho. Desde então… houve mais incidentes”, afirmou Ravina Shamdasani, porta-voz do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a repórteres em Genebra.
A Fundação Humanitária de Gaza iniciou as operações de fornecimento de alimentos em 26 de maio, após Israel romper parcialmente o bloqueio à entrada de ajuda no enclave. Já no primeiro, as Forças de Defesa de Israel (FDI) dispararam perto de multidão de palestinos após a GHF perder controle do posto em Rafah, dando início a um tumulto. Uma série de episódios parecidos foram registrados desde então, alguns deles com mais de 50 vítimas.
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Críticas generalizadas
No final de junho, a ONU condenou a “transformação de alimentos em armas” por Israel na Faixa de Gaza, o que definiu como um “crime de guerra”. Na ocasião, o porta-voz do escritório de direitos humanos das Nações Unidas, Thameen Al-Kheetan, lamentou as “cenas de caos ao redor dos pontos de distribuição de alimentos” e destacou que “pessoas desesperadas e famintas em Gaza continuam enfrentando a escolha desumana de morrer de fome ou correr o risco de serem mortas enquanto tentam conseguir comida”.
“O mecanismo militarizado de assistência humanitária de Israel (em referência à GHF) está em contradição com os padrões internacionais de distribuição de ajuda”, disse ele. “A transformação de alimentos para civis em armas, além de restringir ou impedir seu acesso a serviços de suporte à vida, constitui um crime de guerra.”
Além disso, Al-Kheetan criticou as operações da GHF e afirmou que “coloca civis em perigo e contribui para a situação humanitária catastrófica em Gaza”. Em comentários separados, o chefe da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA), Philippe Lazzarini, disse que a fundação é “uma abominação que humilha e degrada pessoas desesperadas”.
“A comunidade humanitária, incluindo a UNRWA, tem a experiência e deve ter permissão para fazer seu trabalho e fornecer assistência com respeito e dignidade”, apelou ele. “Não há outra alternativa para enfrentar os desafios da disseminação da fome na Faixa de Gaza.”
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Fome e insegurança alimentar
A população da Faixa de Gaza, composta por 2,3 milhões de pessoas antes da guerra, está em “risco crítico” de fome e enfrenta “níveis extremos de insegurança alimentar”, apontou um relatório da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), apoiada por agências das Nações Unidas, grupos de ajuda e governos.
O documento indicou que o cessar-fogo, que durou de janeiro a março, “levou a um alívio temporário” em Gaza, mas as novas hostilidades israelenses “reverteram” as melhorias. Cerca de 1,95 milhão de pessoas, ou 93% da população de Gaza, vivem níveis de insegurança alimentar aguda. Desse número, mais de 244 mil enfrentam graus “catastróficos”. A fome generalizada, segundo a pesquisa, é “cada vez mais provável” no território. No momento, meio milhão de palestinos, um em cada cinco, estão famintos em Gaza.