Ícone da moda e símbolo sexual nos anos 1980, Magda Cotrofê, 62, comemora 40 anos de carreira com o lançamento da biografia O Outro Olhar de Magda Cotrofê (Emó Editora), no qual compartilha com franqueza os bastidores de sua trajetória profissional e pessoal. No livro, a empresária, que já estampou três capas da Playboy, faz um apanhado do trabalho como modelo e atriz de clássicos, como Viva o Gordo, relembra momentos ao lado de grandes nomes da TV, entre eles Silvio Santos, Hebe Camargo, Jô Soares e Chacrinha, e expõe as dores enfrentadas na vida. Em conversa com a coluna GENTE, Magda adianta alguns dos temas abordados, como relacionamentos abusivos, assédio e depressão, critica a comparação com Luiza Brunet e analisa decisões do passado.
O que te fez escolher esse momento para falar sobre assuntos delicados da sua vida? Sempre fui reservada, nunca gostei de falar sobre minha vida, mas essa vontade de escrever um já vem de muito tempo. Várias editoras já me procuraram para fazer uma biografia. Mas, desta vez, recebi um convite da Emoé Editora, que veio, coincidentemente, com os meus 40 anos de carreira. No livro, falo sobre a dor de uma mulher e se, de alguma forma, puder ajudar alguém, já fez o efeito que tinha que fazer.
Antigamente não se falava muito sobre relacionamentos abusivos ou assédio. Você chegou a pensar em falar sobre isso na época? Quando você está dentro, não tem uma visão de que aquilo é abusivo, narcisista…. Você achava que era uma forma de amor, de ciúmes ou carinho. Hoje não é assim. Quando você sai de um relacionamento e começa a olhar a sua história de vida, entende o que passou. No caso do assédio é um pouco diferente porque conseguia entender, mas não tinha como agir porque a fala não existia.
Você foi considerada um símbolo sexual nos anos 1980. Acha que, em algum momento, sua imagem foi mais valorizada do que seu talento? Sim, principalmente o corpo. A mulher objeto era muito forte. Por exemplo, propagandas de carro ou de cerveja sempre tinham uma mulher de biquíni, sensual. O interessante é que as pessoas hoje em dia não têm noção do que vivemos. Nós abrimos portas para muitos lá atrás.
E isso te afetou psicologicamente? Na época, eu achava bacana ser idolatrada. Na medida em que fui envelhecendo e ficando mais madura, entendi que tinha algo para falar. E esse livro é mais ou menos isso, trazendo esse olhar de uma Magda com mais profundidade, mais íntima, uma Magda mulher e mãe. É para mostrar que existe outra pessoa, alguém que tem alma, não só um pedaço de carne.
Como foi resgatar momentos difíceis, como a depressão? Foi bem dolorido. Quando você revisita o passado, você volta em momentos que viveu. Por mais que as pessoas façam tratamento, isso está lá.
Você posou nua quando era mais nova. Se pudesse voltar, faria novamente? É uma pergunta bem complexa para mim. Faz parte da minha história e, realmente, boa parte do que aconteceu partiu disso. Foi bem importante para mim, mas não sei. A gente precisa ponderar antes de tomar qualquer decisão, pois quando somos jovens, não queremos pensar muito, só queremos fazer. Ainda mais naquela época. A gente viveu em um momento de liberdade de corpo. Em 1985, estávamos saindo de uma ditadura, um momento que você quer ser livre. Mas na minha cabeça de hoje, eu pensaria mais.
Como você lidava com a comparação com a Luiza Brunet? Nunca gostei de rótulo. Quando começaram a dizer que eu era sósia, me posicionava: ‘não, não sou’. Hoje sou mais amiga da Luiza, já frequentei a casa dela e temos amigas em comum. Nós não tínhamos problemas, o ambiente é que nos provocava. Isso foi intriga da oposição.
Como você lida com envelhecimento? Já fez procedimentos estéticos? Tenho feito muito pouco. Geralmente faço um estimulador de colágeno e botox. Já estou achando que está na hora de uma cirurgia, mas sou muito medrosa.
Tem alguma coisa no passado que você levou para o livro e quer esquecer? O que mais me tocou foi a questão de relacionamentos no todo, não só entre homem e mulher. Sempre me deixei ser levada, sempre inocente, acreditando nas pessoas. E isso me prejudicou. Acho legal como ser humano, mas fiquei machucada porque as pessoas te dão volta. Vivi pelos outros e esqueci de mim. Agora chegou a hora da Magda Cotrofê. É como se esse livro fosse um marco na minha vida. Outra etapa.
Depois de tudo o que passou, como se relaciona hoje? Está casada? Estou solteira. Tenho um relacionamento aqui, outro ali, mas sempre com cautela. O negócio não está fácil para as novinhas, imagina a gente cheia de escudo e proteção? (risos) Mas estou feliz comigo mesma.
