Em 48 horas, Donald Trump deverá confirmar ou não a tarifa a ser cobrada dos produtos do Brasil nos portos dos Estados Unidos.
Ele disse, nesta segunda-feira (28/7), que a taxa para os países que não chegarem a um acordo comercial com os EUA deve ficar “em algum lugar entre 15% e 20%”.
Desta vez, Trump não citou o Brasil, com tarifa já definida em 50%. Há pressão para que seja mitigada com algumas exceções (aviões e café, por exemplo).
Se mantida, será recorde mundial. E vai representar relevante desafio tanto para Lula quanto para seu adversário Jair Bolsonaro, cujo julgamento por crimes contra a Constituição — entre eles, tentativa de golpe de estado —, foi usado por Trump como justificativa para a imposição da sobretaxa de 50% a todos os produtos brasileiros.
Nesse cenário, Lula tende a ganhar com o contraponto retórico a uma ofensiva estrangeira contra os interesses nacionais. Mas esse ganho tende a ser limitado, como indica pesquisa do Ipespe realizada na semana passada com 2.500 pessoas: obteve 50% de aprovação e 45% de desaprovação. O lucro político de Lula seria de curtíssimo prazo, com um voo de galinha nas pesquisas eleitorais.
Isso porque, com o tempo, prevaleceria a percepção de que o Brasil ficou solitário no mundo, isolado numa tarifa de 50% enquanto os demais países negociaram acordos comerciais com os EUA ou ficaram com sobretaxas na faixa de 15% a 20%. Lula, provavelmente, logo seria identificado como responsável.
Previsíveis consequências domésticas do tarifaço devem reforçar a tendência de repercussão negativa para o governo.
Se nada mudar, indicam operadores do mercado financeiro, a partir de sexta-feira passa a existir risco de quebra de algumas empresas, aumento na inadimplência bancária e demissões em diferentes regiões.
O governo diz preparar um “plano de contingência”. Por melhor que seja, reflexos de uma crise inédita serão inevitáveis para Lula.
Para Bolsonaro, seu adversário, também. Ele se tornou o rosto no cartaz do anúncio de um ataque estrangeiro contra o próprio país. É um desastre cuja dimensão apenas começou a ser traçada em pesquisas como a do Ipespe.
Nela, Bolsonaro aparece como um recordista em desaprovação, com taxa (60%) que é praticamente o dobro do índice de aprovação (32%). Significa que mais de 95 milhões de eleitores condenam a atitude de legitimar uma guerra econômica contra o seu país por causa de problemas privados, personalíssimos, ainda não resolvidos no banco dos réus no Supremo Tribunal Federal.
Empatado em reprovação, na mesma pesquisa, está um de seus filhos parlamentares, Eduardo. Ele aparece com 59% de desaprovação e 27% de aprovação — a taxa de apoio é inferior à do pai. Deputado federal eleito por São Paulo (cerca de 700 mil votos), licenciou-se e migrou para os Estados Unidos. Já enfrenta pedidos de cassação do mandato na Câmara e um inquérito sob uma acusação incomum na política brasileira: traição à pátria.