Em plena campanha pela reeleição, Lula está viajando o país para fazer propaganda de medidas de forte apelo popular. Além da isenção de imposto de renda para quem ganha até 5000 reais por mês, que ainda depende da aprovação do Congresso para valer no ano que vem, o presidente anunciou a ampliação da distribuição de gás de cozinha — que beneficiará 15,5 milhões de famílias carentes, a um custo de 5 bilhões de reais em 2026 — e a isenção ou a diminuição da conta de luz para até 60 milhões de pessoas.
Os itens do pacote de bondades foram tema de eventos públicos, com direito a aliados no palanque e claque amistosa na plateia, como nos anos dourados de Lula. Mas o presidente não está preso ao passado analógico e, depois de relutar, finalmente se rendeu aos novos tempos, reforçando a aposta nas redes sociais para ampliar o alcance de suas mensagens.
Como parte desse esforço, o governo deixou de lado o tom institucional e adotou a linguagem, a estética e os modismos do universo digital para dialogar com os eleitores. Essa mudança de estratégia foi implantada com a troca no comando na Secretaria de Comunicação Social da Presidência, que desde o início do ano está sob a batuta do marqueteiro Sidônio Palmeira.
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Um dos perfis digitais do governo publicou recentemente um vídeo “explicando com gatinhos” o projeto de mudança nas regras do imposto de renda. Nele, bichanos fazem de tudo um pouco enquanto a locutora entoa o mantra da justiça tributária — ou do suposto empenho do governo para taxar os mais ricos e cobrar menos dos mais pobres.
“Menos desconto, mais alívio, mais comidinha na despensa”, diz a locutora. “Esse gatinho não está sozinho. Dez milhões de gatinhos, ou melhor, de trabalhadores, serão beneficiados”.
Em outros dois vídeos, o governo lança mão de influenciadores digitais para divulgar o programa “Luz do Povo”. Um deles aposta no humor. A outra fala de forma didática e clara, mas sempre informal. “É luz garantida e mais alívio no bolso”, promete.
Desde o início do terceiro mandato de Lula, aliados do presidente consideravam um dos principais problemas do governo a dificuldade de reagir às surras que a gestão petista tomava da oposição nas redes sociais. A campanha bolsonarista que denunciava uma falsa intenção do governo de taxar o Pix fez a popularidade do mandatário despencar no início deste ano.
Depois disso, o governo conseguiu se estruturar um pouco melhor para o embate. A oposição ainda leva vantagem, mas consultorias detectaram algumas ocasiões em que os governistas superaram os adversários em duelos travados nas redes. A linguagem ajuda, mas uma boa mensagem continua fundamental. Sem ela, não há gatinho que dê jeito.