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Lula ‘fortão’ e Lula ‘fraquinho’

Em uma clássica entrevista ao repórter Fernando Rodrigues em 2006, o marqueteiro João Santana explicou o fenômeno popular de Lula pela existência de “dois Lulas”: um trabalhador humilde que virou ‘fortão’ e, ao mesmo tempo, o pobre, vítima do preconceito das elites, o ‘fraquinho’. Quase vinte anos depois, o conceito do ‘Lula fortão’ e do ‘Lula fraquinho’ ajuda a entender para onde o presidente leva seu governo. Alternando o papel de vingador dos mais pobres e vítimas das elites, Lula aumenta a pressão do governo sobre o Congresso e deixa mais evidente sua diferença com a Faria Lima

Na quarta-feira, dia 15, no Rio de Janeiro, o “Lula fortão” discursou num evento de comemoração do Dia dos Professores ao lado do presidente da Câmara, Hugo Motta:

“O Hugo sabe que esse Congresso nunca teve a qualidade de baixo nível como tem agora. Aquela extrema-direita que se elegeu na eleição passada é o que existe de pior”, disse Lula, para constrangimento do novo aliado.

Na argumentação de Santana, marqueteiro do PT em quatro eleições presidenciais, Lula alternaria esses dois papéis no imaginário dos brasileiros pobres. Sua vitória, disse Santana, representava também a vitória de cada pobre brasileiro, que assim como ele virava “fortão”. Quando era atacado pela oposição, Lula se transfigurava no “fraquinho”, na vítima de uma conspiração das elites.

No dia seguinte, num evento do PCdoB, o Lula Fortão voltou a atacar o Congresso: “Esses dias, eles aprovaram uma PEC na Câmara que protegia quadrilha, que dava a um presidente de partido imunidade. Que loucura é essa?””

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Falando para militantes, ele conclamou: “Vocês têm de ser mais bravos com a extrema direita. O companheiro Hugo Motta tem de cassar o Eduardo Bolsonaro. Não é possível”.

Os ataques do presidente ao Congresso são planejados. Nenhuma instituição é mais impopular no Brasil do que o Legislativo. Segundo a última pesquisa Genial/Quaest, 58% dos brasileiros desaprovam a Câmara e apenas 32% aprovam. 51% rejeitam o trabalho dos senadores e 37% aplaudem. Para 83% dos entrevistados, deputados federais e senadores atuam em benefício próprio e apenas 11% acham que os congressistas atuam em benefício do País. Parte da recuperação de Lula nas pesquisas se deve à campanha do PT nas redes sociais acusando o Congresso de ser contra o povo e favor dos três Bs: bilionários, bancos e bets.

“Fortão”, Lula iniciou nesta semana a demissão de dezenas de indicados por deputados do Centrão que votaram contra o governo na Medida Provisória que aumentava impostos sobre os três Bs. Inteligente, o governo tirou indicados políticos na Caixa Econômica Federal e nos Ministérios da Agricultura, da Integração Regional e dos Transportes, mas não indicou os substitutos. As trocas serão feitas por outros deputados do Centrão que se disponham a ajudar na reeleição de Lula, como Hugo Motta.

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No discurso de quinta-feira, o Lula Fraquinho dividiu a eleição do ano que vem entre ricos e pobres. “Não temos de dar muita importância para a Faria Lima, não. Nosso discurso é com o povo brasileiro, para aqueles que trabalham. Por isso que foi importante aprovar o Imposto de Renda até R$ 5 mil. 90% do povo brasileiro ganha até R$ 5 mil. Então não estamos fazendo política para uma minoria, é para a maioria.”

No sábado, dia 18, num encontro com estudantes em São Bernardo do Campo, o Lula fraquinho repetiu a dose: “Precisamos aprovar a universalização do Pé-de-Meia, para que todas as pessoas possam ter o direito de estudar. É difícil. A Faria Lima vai brigar com a gente. Os banqueiros vão reclamar. Nossa, esse governo está gastando R$ 13 bilhões com o Pé-de-Meia. ‘Poderia estar aqui na Faria Lima para a gente ganhar mais dinheiro’. Mas nós não estamos gastando. Gastando a gente estaria se o dinheiro fosse para eles. Nós estamos investindo”.

Desde maio, a aprovação do governo Lula subiu 9 pontos percentuais e a desaprovação caiu 8 pontos, segundo a Genial/Quaest. O governo recuperou todo o desgaste do início do ano no seu núcleo duro de apoio (mais pobres, nordestinos, pretos e católicos) e fez uma arrancada entre as mulheres e os eleitores independentes.

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Nas simulações eleitorais, Lula lidera com folga as simulações de primeiro turno e tem agora mais de dez pontos percentuais à frente dos seus prováveis adversários no segundo turno: 45% a 33% contra Tarcísio de Freitas, 46% a 34% contra Michelle Bolsonaro e 44% a 31% contra Ratinho Jr.

Num país onde a fé é uma clivagem eleitoral, Lula Fraquinho teve dois encontros simbólicos nesta semana. Na segunda-feira, dia 13, se encontrou em Roma com o papa Leão 14 e o convidou a visitar o Brasil. Na quinta-feira, Lula recebeu em seu gabinete o bispo Samuel Ferreira e o deputado pastor Cezinha de Madureira, líderes da Igreja Assembleia de Deus Ministério de Madureira, uma das principais denominações evangélicas do país. O presidente recebeu uma Bíblia e participou de uma oração com os religiosos com o Advogado Geral da União, Jorge Messias, favorito a uma vaga no STF.

A eventual indicação de Messias seria um sinal inequívoco do Lula fortão. Se confirmada, será a primeira vez no Lula 3 que o presidente indicará alguém contra a vontade dos ministros do STF, que foram jantar com o presidente na quarta-feira para defender o nome do senador Rodrigo Pacheco. Fortalecido, Lula não deve ceder. Primeiro porque confia plenamente em Messias. E porque tanto o Lula fortão, quanto o Lula fraquinho entendem a importância de atrair os evangélicos.

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