O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi pego de surpresa pela explosão da crise de segurança pública no Rio de Janeiro e tem enfrentado o tema “acuado, sem preparo e sem proposta real”, segundo análise do colunista Robson Bonin, editor da coluna Radar, de VEJA.
Em participação no programa Os Três Poderes, apresentado por Marcela Rahal, Bonin avaliou que o Planalto calculou mal a reação política à megaoperação policial no Rio e à repercussão do caso nas redes. “O governo ficou perdido. Lula estava voltando da viagem com Trump, desconectado, e chegou ao Brasil com o caos já instalado”, disse o jornalista.
“A esquerda, historicamente, tem fragilidade no debate da segurança pública. Não tem um discurso consolidado, nem vontade de aprofundar o assunto. E, nesse episódio, o governo foi acuado pela narrativa dos governadores de direita, que agiram rápido e falaram a linguagem que o eleitor quer ouvir”, afirmou Bonin.
Silêncio, hesitação e um ‘textinho’ presidencial
Segundo Bonin, o governo reagiu tardiamente à crise. Enquanto o governador Cláudio Castro (PL-RJ) cobrava apoio federal e lideranças de direita se uniam em torno do tema, o presidente evitou falar para não correr riscos políticos.
“Lula passou o dia inteiro em silêncio, com medo de perder votos. Mandou só um textinho genérico, quando o eleitor esperava uma fala firme. Logo ele, que fala de tudo, ficou sem voz num dos assuntos que mais preocupam o país”, ironizou o colunista.
O jornalista lembrou ainda que Lula chegou a dizer, em fala anterior, que “traficantes também são vítimas”, frase que foi duramente criticada e precisou ser corrigida nas redes sociais.
“Foi um erro grave. O eleitor quer ver ação, não relativização. E a maioria dos brasileiros, goste-se ou não, quer ver bandido se dando mal. É esse o apelo que a direita sabe usar e que volta agora com força total”, observou.
PEC da segurança: solução ou engodo?
Em meio à pressão, o governo anunciou o “escritório emergencial de enfrentamento ao crime organizado”, apresentado pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, como um espaço de integração entre forças estaduais e federais. Bonin, porém, classificou a medida como “improvisada” e politicamente simbólica, sem efeitos práticos.
“A PEC da segurança, que o governo ressuscitou, é só um engodo. Estava engavetada no cemitério de boas ideias do Congresso e foi tirada de lá por constrangimento político. Não é uma solução real. O ministro criou um escritório de emergência para parecer que algo está sendo feito”, criticou.
Para o colunista, o problema é estrutural: a falta de recursos e de planejamento.
“Lula gastou tudo em agendas populistas e deixou as Forças Armadas e a Defesa na penúria. Não tem dinheiro para viatura, avião, nem contingente militar. Mesmo que quisesse intervir, o governo não teria como”, apontou.
Direita assume o protagonismo
Enquanto o governo busca uma saída, os governadores de direita — como Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e Ronaldo Caiado — aproveitaram o episódio para retomar protagonismo político.
“A direita achou um discurso. A segurança pública virou a nova bandeira eleitoral, e o governo Lula entrou em desvantagem porque fala em legalidade enquanto a oposição fala em ação. É um contraste poderoso no imaginário popular”, avaliou Bonin.
Um governo sob pressão
O colunista concluiu que o Planalto enfrenta uma das pautas mais delicadas do momento: “O crime continua lá, a sensação de insegurança também. A operação no Rio fez barulho, mas a vida das pessoas não mudou. E o governo, mais uma vez, ficou reagindo — em vez de liderar o debate.”
“A verdade é que a direita transformou a crise em discurso eleitoral. O governo Lula, por enquanto, só tem improviso e retórica burocrática. E, em segurança pública, isso nunca foi suficiente.”