O presidente Lula e o PT evitaram até agora fazer qualquer declaração de apoio ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, que está sob cerco cerrado dos Estados Unidos. Por ordem do presidente americano, Donald Trump, três navios de guerra foram deslocados para o sul do Caribe, uma área próxima da costa da Venezuela, sob a alegação de conter ameaças e cartéis do narcotráfico na região.
O governo dos EUA também aumentou a recompensa pela captura de Maduro, que subiu para 50 milhões de dólares. O Departamento de Justiça acusa o ditador venezuelano de tráfico de drogas, conspiração com narcoterroristas e uso de armas em apoio a crimes relacionados ao comércio de cocaína.
Por enquanto, apenas aliados mais ideológicos prestaram solidariedade. O Foro de São Paulo, que congrega partidos de esquerda da América Latina, publicou uma nota repudiando as intervenções do presidente dos EUA na região sob o pretexto de combater drogas. O Foro de São Paulo criticou ainda o aumento do valor da recompensa “ilegal” pelo “presidente constitucional da República Bolivariana da Venezuela’.
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que este ano ganhou 180 000 hectares de terras na Venezuela para um projeto de produção comunitária, também saiu em defesa de Maduro: “O MST vem publicamente expressar sua solidariedade com o povo venezuelano frente a nova ofensiva do imperialismo estadunidense contra a Revolução Bolivariana.”
Celso Amorim defendeu princípio da não intervenção na Câmara
Mesmo o assessor especial para assuntos internacionais do presidente Lula, o ex-ministro Celso Amorim, conhecido pelo antiamericanismo, não fez ataques diretos à figura do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao tratar do caso da Venezuela na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.
“Eu acho que a não intervenção é fundamental, é princípio basilar da política externa brasileira, e nos preocupa a presença de barcos de guerra muito próximos da costa da Venezuela”, disse Amorim. “O crime organizado deve ser combatido, mas com a cooperação dos países e não com intervenções unilaterais”.
No início de seu terceiro mandato, Lula prestou solidariedade a Maduro, recebendo-o em Brasilia com pompa e circunstância, num gesto destinado a fortalecê-lo. O presidente brasileiro chegou a elogiar as eleições na Venezuela e cometeu o desatino retórico de dizer que o conceito de democracia é relativo, numa tentativa de escapar de reconhecer o óbvio: a existência de uma ditadura no país vizinho.
Depois, Lula enfrentou novo constrangimento diante das denúncias de fraude no processo eleitoral em que Maduro foi reeleito. O governo brasileiro não reconheceu o resultado e pediu que o ditador comprovasse a lisura da votação, o que não foi feito. “No Brasil, houve eleições, e o presidente Bolsonaro não reconheceu o resultado. Houve recurso no tribunal supremo do Brasil, que decidiu que os resultados eleitorais deram vitória da Lula. Santa palavra do Brasil. E quem se meteu com o Brasil? Ninguém”, respondeu o ditador, alfinetando o companheiro de longa data, agora parceiro numa relação estremecida.