O encontro entre Lula e Donald Trump e a consolidação de Javier Milei na Argentina não pertencem à rotina dos fatos políticos. São sinais de um tempo em que o pragmatismo volta a ter valor e a liderança se mede pela coragem de contrariar o próprio passado. O Brasil foi convocado a amadurecer. Chegou a hora de abandonar a retórica confortável e encarar o mundo como ele é, competitivo, veloz e sem paciência para hesitações.
A reaproximação com os Estados Unidos recoloca o país no tabuleiro das grandes decisões. Já não se trata de vender carne e café, mas de ocupar o papel de fiador de segurança alimentar e energética num planeta inquieto. O Brasil tornou-se novamente indispensável, mas ainda não se comporta como potência. A vitória de Milei reforça essa mensagem: a América do Sul começa a premiar quem entrega resultados, não quem explica fracassos. A disciplina fiscal passou de tema técnico a condição de soberania.
Lula tem diante de si a chance mais rara da política: transformar uma conjuntura favorável em legado histórico. Pode escolher ser o gestor de um ciclo ou o fundador de uma era. Para isso, precisa enfrentar o tabu que paralisa o país, reformar o orçamento, disciplinar o gasto, modernizar o Estado e devolver previsibilidade à economia. Essa agenda não pertence a partido algum; pertence ao Brasil.
A nação vive um paradoxo. Possui terra, água, energia e gente talentosa, mas opera com o freio de um Estado que consome o que não produz. Nenhum país sustenta protagonismo global sem ordem fiscal. Nenhum líder exerce autoridade internacional enquanto teme tocar nas contas públicas. A grandeza brasileira está presa na contabilidade de um governo que se recusa a mudar.
Lula pode romper esse ciclo. Pode mostrar que há poder em dizer não, grandeza em cortar e visão em planejar. A sociedade está pronta para um presidente que ultrapasse o PT e negocie com o futuro. O mundo também está pronto para reconhecer o Brasil como referência de inteligência produtiva e estabilidade real. Trump, em sua maneira própria e turbulenta, está reconstruindo o Estado americano e recolocando o país no centro da disputa de poder global. Milei recompõe a credibilidade argentina com choque de realidade e rigor. Lula pode reposicionar o Brasil na fronteira da abundância, desde que tenha coragem de tratá-la com responsabilidade.
O país precisa de direção, não de slogans. Precisa de ambição, não de autoindulgência. A oportunidade está posta: unir o centro político, o mercado e a sociedade produtiva em torno de uma só missão, devolver ao Brasil a grandeza que o século vinte e um ainda lhe reserva. Se compreender a dimensão desse instante, Lula poderá ser maior que o seu partido e maior que a própria política.
A história raramente concede segunda chance. Desta vez, ela estendeu a mão. Cabe ao presidente decidir se será lembrado como o homem que administrou o presente ou como o líder que abriu o futuro.
*Gustavo Diniz Junqueira foi secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, presidente da Sociedade Rural Brasileira e é empresário do agronegócio