O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversará por ligação com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, nesta quinta-feira, 7, um dia após as tarifas de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros entrarem em vigor. Na quarta-feira, o presidente americano, Donald Trump, anunciou taxas adicionais de 25% contra o país de Modi por impor “barreiras comerciais” aos EUA e por comprar petróleo russo. Agora, tanto Brasil quanto Índia são alvo de tarifas de 50%.
Lula e Modi têm laços estreitos. Brasil e Índia também compõem o Brics, foco de críticas de Trump. Além deles, Rússia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã são membros do grupo. No mês passado, depois da cúpula dos Brics, os líderes se reuniram no Palácio do Planalto, em Brasília, para assinar uma série de acordos de cooperação entre os dois países.
Na ocasião, o petista subiu o tom contra as ameaças do republicano. Ele disse que os países do bloco são “soberanos” e que não aceitarão “intromissão de quem quer que seja nas nossas decisões soberanas, no jeito que cuidamos do nosso povo”, acrescentando: “Defendemos o multilateralismo, porque foi o sistema que depois da 2ª Guerra permitiu que o mundo chegasse ao Estado de harmonia que está sendo deformado hoje pelo surgimento do extremismo.”
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Cerco de Trump
No anúncio das tarifas extras, a Casa Branca disse que foi constatado “que o governo da Índia está atualmente importando petróleo da Federação Russa, direta ou indiretamente” e que, por isso, “em conformidade com a legislação aplicável, os artigos provenientes da Índia importados para o território aduaneiro dos Estados Unidos estarão sujeitos a uma alíquota adicional ad valorem de 25%”. A decisão entra em vigor em 21 dias, contados a partir desta quarta-feira.
O Brasil, por sua vez, é alvo de tarifas de 50% como retaliação à “caças às bruxas”, como define Trump, do governo Lula e do Supremo Tribunal Federal (STF) ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Ainda em julho, os EUA sancionaram o ministro Alexandre de Moraes, do STF, através da Lei Magnitsky, usada para punir estrangeiros acusados de violações graves de direitos humanos ou de corrupção em larga escala.
Para além da parte da história que envolve Bolsonaro, Moraes também virou alvo da Casa Branca devido ao que chama de “censura” a conteúdos publicados pela plataforma de vídeos online Rumble e da Trump Media, empresa do presidente Trump. Ambas acusam o ministro de violar a Primeira Emenda da Constituição americana, que garante a liberdade de expressão, ao ordenar a remoção de contas de influenciadores brasileiros de direita na plataforma. As remoções ocorreram no âmbito do inquérito das fake news do STF contra perfis que espalham desinformação.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, já havia anteriormente cancelado os vistos do ministro do STF, seus familiares e aliados. “O presidente Donald Trump deixou claro que seu governo responsabilizará estrangeiros responsáveis pela censura de expressão protegida nos Estados Unidos. A caça às bruxas política do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, contra Jair Bolsonaro criou um complexo de perseguição e censura tão abrangente que não apenas viola direitos básicos dos brasileiros, mas também se estende além das fronteiras do Brasil, atingindo os americanos”, disse ele então.
Bolsonaro está inelegível por 8 anos, por duas condenações no Tribunal Superior Eleitoral, por abuso de poder e uso indevido de meios de comunicação, ao atacar as urnas eletrônicas durante a eleição de 2022, sem provas concretas.
Em paralelo, em março, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal tornou por unanimidade o ex-presidente e mais sete aliados réus por tentativa de golpe em 2022, aceitando denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República. Ele também responde pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.