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Livre-comércio sob pressão: por que a Itália pode decidir o futuro do acordo UE–Mercosul?

Poucos acordos comerciais revelam de forma tão clara as contradições da política comercial europeia quanto o tratado entre a União Europeia e o Mercosul. Após mais de duas décadas de negociações, quando o desfecho parecia finalmente ao alcance, o pacto voltou a emperrar. Desta vez, o foco de resistência é a Itália.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, classificou como “prematura” a assinatura do acordo, prevista para ocorrer no sábado, dia 20. No papel, não se trata de um veto. Na prática, porém, a sinalização tem peso decisivo. Pelas regras do Conselho da União Europeia, é necessário o apoio de ao menos 15 dos 27 Estados-membros que representem, juntos, 65% da população do bloco. Como o terceiro país mais populoso da UE, a Itália se tornou o fiel da balança, e sua hesitação aproxima o tratado de um bloqueio que, até pouco tempo atrás, parecia improvável.

Diante do Parlamento italiano, Meloni reafirmou seu compromisso com o comércio internacional, mas condicionou o aval do país à existência de “garantias adequadas de reciprocidade” para o setor agrícola. Meloni, no entanto não fechou totalmente as portas. Ela disse estar “muito confiante” de que as condições existirão para assinar o acordo no início de 2026. O discurso é conhecido em Bruxelas: suficientemente flexível para não fechar portas, mas firme o bastante para dar voz às inquietações de agricultores italianos, preocupados em competir com carnes, grãos e açúcar sul-americanos produzidos a custos mais baixos e sob regras ambientais e sanitárias distintas.

O argumento ecoa em Paris, onde a França lidera a oposição ao acordo, respaldada por Polônia e Hungria. Forma-se, assim, uma frente de resistência em contraste com a visão da Comissão Europeia e de países como Alemanha e Espanha, que veem no Mercosul uma oportunidade estratégica para diversificar mercados, fortalecer laços com a América do Sul e reforçar a posição global da UE.

Negociado ao longo de 25 anos, o acordo criaria a maior zona de livre comércio do mundo. Para a União Europeia, abriria espaço para ampliar exportações de automóveis, máquinas, vinhos e bebidas alcoólicas; para o Mercosul, facilitaria o acesso de commodities agrícolas ao mercado europeu.

Ciente da resistência francesa, o Parlamento Europeu aprovou o texto acompanhado de um pacote de salvaguardas desenhado para conter temores no campo. Os mecanismos permitem limitar importações em três situações: se os preços dos produtos do Mercosul ficarem ao menos 5% abaixo dos europeus; se houver quedas superiores a esse patamar em relação ao ano anterior; ou se o volume importado crescer mais de 5% em um único ano. A mensagem é clara: o acordo não é um cheque em branco. Para seus críticos, contudo, as garantias ainda estão longe de ser suficientes.

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