Uma alta autoridade do Kremlin acusou nesta quinta-feira, 23, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de lançar um “ato de guerra” contra a Rússia através de novas sanções ao país. Na véspera, o republicano cancelou os planos de se reunir com o presidente russo, Vladimir Putin, na Hungria, enquanto o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, anunciou sanções às duas maiores companhias de petróleo de Moscou, Rosneft e Lukoil, diante à “recusa do presidente Putin em encerrar esta guerra sem sentido”.
“Se algum dos muitos comentaristas ainda tinha ilusões — aqui está. Os EUA são nossos inimigos, e seu ‘pacificador’ tagarela agora está a caminho da guerra com a Rússia”, escreveu Dmitry Medvedev, vice-presidente de Putin no Conselho de Segurança do Kremlin e ex-presidente, no Telegram.
Medvedev, conhecido por bravatas e por seguir linha-dura, comparou as estratégias de Trump e do seu antecessor, Joe Biden: “Sim, ele nem sempre luta ativamente ao lado da Kiev banderista, mas este conflito agora é dele, não do senil Biden!”, disse. O uso de “banderista” faz referência ao nacionalista ucraniano antissoviético da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Stepan Bandera, que se aliou à Alemanha Nazista. Em campanha, Trump culpou Biden pelo conflito e prometeu encerrá-la em “24 horas” caso retornasse à Casa Branca, mas falhou.
“É claro que dirão que ele não poderia ter agido de outra forma, que foi pressionado no Congresso, etc.”, continuou ele. “Isso não muda o ponto principal: as decisões tomadas são um ato de guerra contra a Rússia. E agora Trump se aliou totalmente à Europa insana.”
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Encontro com Zelensky
Rosneft já era sancionada pela União Europeia (UE), ao passo que o Reino Unido sancionou as duas empresas na semana passada. A decisão dos EUA de seguir os passos do governo britânico ocorre poucos dias após uma reunião entre Trump e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na Casa Branca. Embora tenha hesitado em enviar misseis Tomahawk aos ucranianos, um desejo de Zelensky, o republicano adotou um tom mais amigável com o ucraniano em relação ao encontro em fevereiro, marcado por um caloroso bate-boca.
No encontro, Trump afirmou que Zelensky e Putin tem uma “rixa” e “não se gostam”. Questionado sobre qual dos lados do conflito negociava melhor para o fim do conflito, ele destacou que “ambos estão fazendo um ótimo trabalho”. O presidente americano também pareceu descartar uma trilateral, mas acabou por deixar a ideia em aberto: “Queremos que todos se sintam confortáveis. Então, de uma forma ou de outra, estaremos envolvidos em grupos de três, mas pode ser que sejam separados”, disse.
“Bem, vamos ver o que acontece. Quer dizer, sabe de uma coisa? Acho que ele vai. Acho que o presidente Putin quer acabar com a guerra, ou eu não estaria falando assim”, pontuou Trump.
Em determinado momento, ele passou a se lamentar por não ter sido o vencedor do Nobel da Paz, concedido à líder da oposição da Venezuela, María Corina Machado. Ele se definiu como “o presidente mediador” e disse que adorava “resolver guerras”. O chefe da Casa Branca salientou que estava lidando com uma “situação nada fácil”, em referência à guerra na Ucrânia, explicando: “É muito mais fácil quando as pessoas se entendem, quando se unem, quando gostam umas das outras”. Depois, voltou a elogiar os seus próprios feitos.
“Este é o número nove. Certo, este será o número nove para mim. Já resolvi oito, incluindo o Oriente Médio… Não ganhei um Prêmio Nobel… então não me importo com essas coisas. Só me importo em salvar vidas. Mas este será o número nove”, apontou.
Trump foi, então, questionado se estava preocupado com a ideia de Putin estar tentando enganá-lo para conseguir mais tempo. Ele respondeu que “sim”, mas ponderou: “Fui enganado a vida toda pelos melhores, e me saí muito bem, então é possível, sim, pouco tempo. Tudo bem. Mas acho que sou muito bom nisso”