Leão XIV usou o primeiro grande documento de seu papado, divulgado nesta quinta-feira, 9, para tecer críticas veladas às políticas do governo Donald Trump nos Estados Unidos. Primeiro americano a liderar a Igreja Católica, ele fez um apelo urgente para que o mundo ajude os imigrantes, referenciando diretamente e de forma negativa medidas que o ocupante da Casa Branca defende e implementa, como a construção de muros na fronteira.
O texto de 104 páginas conhecido como uma “exortação apostólica” concentra-se nas necessidades dos pobres do mundo. O pontífice clama por mudanças abrangentes no sistema de mercado global para enfrentar a crescente desigualdade e ajudar as pessoas que vivem de salário em salário. O documento intitulado “Dilexi te” (Eu te amei) começou como um projeto de escrita do antecessor de Leão, o papa Francisco, que não conseguiu publicá-lo antes de sua morte, em abril.
“Estou feliz em tornar este documento meu – acrescentando algumas reflexões – e publicá-lo no início do meu próprio pontificado”, escreveu ele no início do texto.
O cardeal Michael Czerny, conselheiro sênior de Francisco e de Leão, enfatizou que, embora o novo documento tenha sido iniciado pelo falecido papa, ele representa as posições de Leão.
Críticas a políticas de Trump
Desde que foi eleito em maio para substituir Francisco, Leão demonstrou um estilo muito mais reservado do que seu antecessor, que frequentemente criticava o governo Trump. Mas o papa americano vem intensificando a retórica nas últimas semanas, gerando reações acaloradas de proeminentes católicos conservadores.
“A Igreja, como uma mãe, acompanha aqueles que caminham”, escreveu o pontífice. “Ela sabe que em cada imigrante rejeitado, é o próprio Cristo que bate à porta da comunidade.”
Ele continuou: “Onde o mundo vê ameaças, (a Igreja) vê crianças; onde muros são construídos, ela constrói pontes” — uma referência à crítica de Francisco a Trump em 2016, quando chamou o presidente de “não cristão” devido ao plano avançado em seu primeiro mandato para construir um muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México.
Em recente resposta às críticas de Leão, a Casa Branca reiterou que Trump foi eleito com base em suas muitas promessas, incluindo a deportação de “imigrantes ilegais criminosos”.
Desigualdade
O papa também escreveu que o número de pessoas vivendo na pobreza “deve pesar constantemente em nossas consciências”.
“Não faltam teorias que tentam justificar o estado atual das coisas ou explicar que o pensamento econômico exige que esperemos que forças invisíveis do mercado resolvam tudo”, afirmou no documento. “Aos pobres são prometidas apenas algumas ‘gotas’ que escorrem, até que a próxima crise global traga as coisas de volta ao que eram.”
O texto sinaliza que Leão compartilha algumas das mesmas prioridades de Francisco, que frequentemente criticou o sistema de mercado global por não se importar com as pessoas mais vulneráveis da sociedade.
“A ilusão de felicidade derivada de uma vida confortável empurra muitas pessoas para uma visão de vida centrada na acumulação de riqueza e sucesso social a todo custo, mesmo às custas dos outros”, afirmou o documento. “Ou recuperamos nossa dignidade moral e espiritual, ou caímos em uma fossa.”