Leão XIV criticou a desigualdade salarial entre CEOs e seus funcionários, entre eles o magnata Elon Musk, na sua primeira entrevista como papa, divulgada nesta segunda-feira, 15. Questionado pelo site de notícias católico Crux sobre a polarização, o pontífice disse que era necessária “uma reflexão mais profunda” e que “muitos elementos levaram a isso”, citando a pandemia de Covid-19, embora tenha afirmado que acredita que o problema tenha surgido “mais atrás”.
“Talvez em alguns lugares a perda de um sentido mais elevado do que é a vida humana tenha algo a ver com isso, o que afetou as pessoas em muitos níveis. O valor da vida humana, da família e o valor da sociedade. Se perdermos o sentido desses valores, o que mais importa?”, ponderou ele. “Adicione a isso alguns outros fatores, um que considero muito significativo é a crescente diferença entre os níveis de renda da classe trabalhadora e o dinheiro que os mais ricos recebem.”
“Por exemplo, CEOs que, há 60 anos, poderiam estar ganhando de quatro a seis vezes mais do que os trabalhadores recebem; o último número que vi é 600 vezes mais do que a média dos trabalhadores. Ontem, a notícia de que Elon Musk será o primeiro trilionário do mundo. O que isso significa e do que se trata? Se essa é a única coisa que ainda tem valor, então estamos em apuros…”, advertiu o papa.
+ O aceno de papa Leão a padre americano conhecido por rebanho LGBTQIA+
Fé na humanidade
A correspondente do Crux também perguntou a Leão quais pontes ele desejava construir no seu Papado, tanto “politicamente, socialmente, culturalmente, eclesiasticamente”. Como de praxe, o pontífice destacou a importância do diálogo, um artigo escasso em contextos polarizados, e salientou a importância do multilateralismo. Ele também lamentou que, no momento, as Nações Unidas “perderam sua capacidade de unir as pessoas em questões multilaterais”.
“Precisamos continuar a nos lembrar do potencial que a humanidade tem para superar a violência e o ódio que nos dividem cada vez mais. Vivemos em tempos em que polarização parece ser uma das palavras do dia, mas não está ajudando ninguém. Ou, se está ajudando alguém, são pouquíssimos, enquanto todos os outros estão sofrendo. Portanto, continuar a levantar essas questões, acredito, é importante”, disse.
+ Papa Leão pede fim da ‘punição coletiva’ em Gaza, enquanto mortes por fome se multiplicam
Guerra na Ucrânia
Além disso, o líder da Igreja Católica definiu a guerra na Ucrânia como uma “matança inútil” e destacou que a Santa Sé tem tentado se manter “verdadeiramente neutra” desde o início do conflito, em fevereiro de 2022. Leão, o primeiro papa americano na história do catolicismo, afirmou que “vários atores precisam pressionar com força suficiente para que as partes em guerra digam: chega, e vamos procurar outra maneira de resolver nossas diferenças”.
“Continuamos com esperança. Acredito firmemente que não podemos perder a esperança, nunca. Tenho grandes esperanças na natureza humana. Existe o lado negativo; existem os maus atores, existem as tentações. De qualquer lado, de qualquer posição, você pode encontrar motivações boas e motivações nem tanto”, argumentou ele.
“E, no entanto, continuar a encorajar as pessoas a olharem para os valores mais elevados, os valores reais, faz a diferença. Você pode ter esperança e continuar tentando pressionar e dizer às pessoas: vamos fazer isso de uma maneira diferente”, concluiu.