O economista Fábio Louzada foi direto: não existe mercado financeiro sem política. Ele explicou que, hoje, os investidores acompanham a LDO com mais atenção do que o próprio PIB. O motivo é simples — e incômodo: a crise entre o governo Lula e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, transformou a pauta orçamentária em um grande balcão de trocas, com parlamentares antecipando emendas e o Executivo cedendo espaço para garantir apoio. O risco, segundo Louzada, é que essa engenharia eleitoral drene recursos que poderiam estar indo para produtividade, educação e tecnologia. “É impossível governar sem emendas, mas é trágico ver o dinheiro escorrendo para fins eleitorais”, resumiu.
Para o mercado, o temor é que a LDO seja empurrada para o limite — ou usada como barganha política. Louzada lembrou que o governo precisa da aprovação para funcionar, enquanto deputados e senadores dependem das emendas para sobreviver eleitoralmente. Todos ganham; quem perde é o fiscal. A conta chega rápido: juros longos elevados, incerteza crônica e a perspectiva, já alertada por economistas, de que 2027 será um ano estrangulado se não houver um ajuste sério. Sem aumentar receitas — o que é quase inviável em ano eleitoral — e sem cortar gastos, o governo entra numa “sinuca de bico” que afeta diretamente as expectativas econômicas.
No fim das contas, disse Louzada, a disputa entre Congresso e Planalto contamina todo o ambiente. A indicação de Messias ao STF, travada por Alcolumbre, virou mais um episódio da guerra política que impacta o fiscal. “Quando governo e Congresso negociam entre si para ambos ganharem, o único que perde é o povo”, afirmou. O mercado, pragmático, já precificou esse enredo: ficará de olho nos números — mas, antes deles, observará quem vence a queda de braço em Brasília.