Um achado improvável em um jardim em Nova Orleans revelou um fragmento da história romana. A antropóloga Daniella Santoro (Tulane University) e o marido, Aaron Lorenz, localizaram no quintal de casa, no bairro histórico de Carrollton, uma pedra antiga gravada em latim.
Especialistas identificaram o artefato como uma lápide funerária de cerca de 1.900 anos, originária da Itália, dedicada ao soldado Sextus Congenius Verus. A tradução do texto indica que ele foi legionário da frota pretoriana Misenensis, de origem bessa (Trácia), viveu 42 anos e serviu 22 a bordo da trirreme Asclepius; a homenagem foi erguida por seus herdeiros Atilius Carus e Vettius Longinus.
O perfil do epitáfio coincide com o de uma peça antes reportada como desaparecida do Museu Arqueológico Nacional de Civitavecchia (cerca de 64 km de Roma). A cidade portuária sofreu bombardeios na Segunda Guerra, e o museu, destruído, só foi reaberto em 1970.
Em consulta ao acervo, uma listagem de 1954 menciona a lápide, embora baseada em documentos anteriores, reforçando a hipótese de perda no pós-guerra. Com orientação de especialistas em patrimônio, os proprietários entregaram a pedra às autooridades locais, que conduzirão a repatriação para Civitavecchia.
Como a lápide atravessou o Atlântico?
A trajetória da peça até o quintal de Santoro permanece sem resposta. Levantamentos censitários indicam que o imóvel pertenceu por boa parte do século XX à família de Frank Simon, gerente de uma fábrica de calçados.
Uma das hipóteses levantadas é que a peça tenha sido levada aos Estados Unidos como “souvenir de guerra”, algo relativamente comum entre soldados americanos que serviram na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, os registros mostram que Frank Simon tinha 59 anos em 1940 e morreu em 1945, o que torna improvável que ele próprio tenha participado do conflito. Já um vizinho veterano da Marinha, embora tenha servido na época, atuou apenas no Pacífico, e não na Europa, de onde a lápide teria vindo.
Outra possibilidade considerada pelos pesquisadores é que o artefato tenha sido intermediado por um antiquário e, posteriormente, reaproveitado como pedra de jardim após alguma reforma ou mudança de proprietário. Investigadores seguem cruzando registros locais e italianos para preencher a lacuna fundamental desta história: quem trouxe a lápide, quando e como ela foi parar em um quintal de Nova Orleans.