Quando Kelen Ferreira sobreviveu à tragédia da Boate Kiss, que matou 242 pessoas e deixou 635 pessoas tatuadas pelo massacre do dia 27 de janeiro de 2013, em Santa Maria (RS), não teria como imaginar que a vida ainda traria alegrias. Até porque todo processo de adaptação à sua realidade pós-incêndio foi muito longo e difícil. “A amputação da minha perna, por exemplo, foi um choque muito grande para mim porque já tinha alguns problemas com o meu corpo. Demorei sete anos para aceitar o que tinha acontecido”, contou ela a VEJA.
Kelen também pensou que não conseguiria formar uma família, já que as marcas deixadas pela tragédia levaram embora a leveza da juventude. “Ficava pensando que isso não seria possível”. Mas eis que ela se casou e agora, em 2025, recebeu uma das melhores notícias de sua vida: está grávida. E de gêmeos. “1+1 = agora somos 4”, postou ela, citando uma frase do livro bíblico de Efésios que diz “infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos…”
Ano de alegrias
Além da gravidez, descoberta recentemente, Kelen realizou o sonho de se transformar em uma Barbie como parte do projeto “Mulheres Inspiradoras” (Role Models, em inglês), ao lado da amiga, Paola Antonini – elas foram as primeiras brasileiras PCDs (Pessoa Com Deficiência) a receberem uma boneca inspirada em nelas. “Eu reunia as amigas para promover casamentos e festas de aniversário entre as bonecas e seus Kens. Sempre tive o sonho de ter uma família, ser mãe”, disse ela, durante sessão de fotos da boneca. Agora vai ser.
A luta continua
De qualquer forma, Kelen continua à frente da luta em busca de justiça no caso da Boate Kiss. O próximo passo é a análise dos recursos das defesas dos quatro réus condenados pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) marcada para 26 de agosto, às 9h, em Porto Alegre.
O processo retorna ao TJRS para apreciação de teses subsidiárias apresentadas pelas defesas. Entre os pontos a serem avaliados, estão as penas impostas aos réus e se a decisão do julgamento está de acordo com as provas dos autos. A última decisão referente ao caso aconteceu em abril, quando a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por maioria negar os recursos das defesas, mantendo as prisões dos quatro réus Elissandro Spohr (ex-sócio, condenado a 22 anos e 6 meses); Mauro Hoffman (ex-sócio, condenado a 19 anos e 6 meses), Marcelo de Jesus dos Santos (vocalista da banda, condenado a 18 anos) e Luciano Bonilha (auxiliar da banda, condenado a 18 anos).