Um tribunal da Argentina proibiu nesta segunda-feira, 1, meios de comunicação de publicarem áudios gravados na Casa Rosada, em meio a um escândalo de corrupção ligado à Karina Milei, irmã do presidente Javier Milei e secretária-geral da Presidência. A decisão ocorre poucas horas após o governo argentino entrar com uma queixa criminal sobre os áudios que citam o nome de Karina como parte de um esquema de propina da Agência Nacional para a Deficiência (Andis) na compra de medicamentos.
“Denunciamos uma operação ilegal de inteligência para desestabilizar o país em plena campanha eleitoral. Conversas privadas de Karina Milei e de outros funcionários foram gravadas, manipuladas e divulgadas com o objetivo de condicionar o Executivo. Foi um ataque ilegal, planejado e direcionado”, anunciou o porta-voz da presidência, Manuel Adorni, nas redes sociais.
Em seguida, Milei citou a publicação e afirmou, em letras garrafais, que o conluio contra a sua irmã fazia parte de uma “OPERAÇÃO DE INTELIGÊNCIA ILEGAL”. Desde o início da crise política, na semana passada, Adorni alega uma campanha de perseguição ao governo que supostamente miraria as as eleições legislativas, nas quais o partido governista, o Liberdade Avança, desponta como favorito.
“Quanto às supostas gravações de Karina Milei: se forem verdadeiras, estamos diante de um escândalo sem precedentes. Seria a primeira vez na história da Argentina que um funcionário público é gravado dentro da Casa Rosada”, disse o porta-voz na ocasião. “A divulgação dessas gravações, a 10 dias das eleições na província de Buenos Aires, confirma que tudo o que vem ocorrendo é uma operação orquestrada e planejada de desinformação, com o objetivo evidente de desestabilizar o governo e influenciar maliciosamente o processo eleitoral.”
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Entenda o caso
A crise política foi instaurada após vazamento de gravações de áudio nas quais uma voz, atribuída a Diego Spagnuolo, então chefe da Andis, detalha um suposto sistema de retorno de 8% sobre a compra de medicamentos.As gravações apontam Eduardo “Lule” Menem, assessor presidencial, como o suposto organizador do esquema e mencionam Karina como a suposta destinatária de 3% das propinas.
A disseminação do material de origem ilegal gerou uma crise imediata dentro do governo, uma vez que os áudios indicam a concessão de contratos estatais multimilionários a empresas em troca de suborno. Reportagens detalham um suposto aumento na “comissão” das vendas de certas farmacêuticas para os políticos beneficiados — de 5% para 8%.
A Suizo Argentina SA, mencionada em um dos áudios atribuídos a Spagnuolo, multiplicou seus negócios com o Estado no último ano: passou de contratos assinados no valor de US$ 3,898 bilhões em 2024 para US$ 108,299 bilhões até agora neste ano. Ou seja, é um salto de 2.678% nos contratos públicos conquistados pela empresa. Os números são provenientes das licitações públicas e privadas originais e dos contratos diretos obtidos pela empresa, que estão disponíveis no site oficial do Compr.Ar.
A resposta da Casa Rosada foi exonerar Spagnuolo “preventivamente”, intervir na Andis por 180 dias e nomear um auditor, Alejandro Vilches. Na esfera judicial, a investigação está sendo conduzida pelo promotor Franco Picardi, que ordenou 15 buscas e apreensão de US$ 266 mil (quase R$ 1,5 milhão) em poder do empresário Emmanuel Kovalivker, diretor da farmacêutica Suizo Argentina.