Uma carta atribuída ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, endereçada a Jeffrey Epstein foi revelada na noite de quinta-feira 17 pelo jornal americano The Wall Street Journal. O bilhete fazia parte de um álbum de aniversário organizado para o financista em 2003 e contém um desenho de uma mulher nua e mensagens insinuantes. O material integra documentos relacionados às investigações sobre o empresário, condenado por abuso de menores e tráfico sexual e encontrado morto na prisão em 2019, e sua rede de contatos.
O álbum comemorativo foi organizado por Ghislaine Maxwell, então braço direito de Epstein. O caderno reúne mensagens manuscritas, desenhos, colagens e fotos de amigos e conhecidos.
A reportagem, intitulada “Os amigos de Jeffrey Epstein enviaram-lhe cartas obscenas para um álbum do 50º aniversário. Uma delas era de Donald Trump“, publicou na íntegra a página atribuída ao presidente americano.
Há um esboço feito com caneta preta, retratando o corpo nu de uma mulher, com destaque para os seios e a assinatura “Donald” na região pubiana. Um texto simula um diálogo entre os dois amigos, em que Trump diz coisas como “Temos certas coisas em comum, Jeffrey”, “enigmas nunca envelhecem” e “que cada dia seja um segredo maravilhoso”.
Reação de Trump
O líder republicano, em resposta, negou ser autor do conteúdo, que chamou de “farsa”, e ameaçou processar o Wall Street Journal e seu proprietário, Rupert Murdoch, que controla um império da mídia com produtos como a Fox News. Uma postagem do próprio Trump nas redes sociais confirmou rumores que circulavam nos círculos políticos e midiáticos: a Casa Branca estava tentando impedir o jornal de publicar a reportagem.
“Eu disse a Rupert Murdoch que era tudo uma farsa, que ele não devia publicar esta história falsa. Mas ele publicou, e agora vou processá-lo e processar o seu jornal de terceira categoria”, escreveu na Truth Social, sua rede social. Numa declaração anterior, a equipe de Trump disse que ele “pessoalmente” alertou o proprietário do WSJ e a editora-chefe, Emma Tucker, de que a carta era “falsificada”.
Trump tem um longo histórico de ameaças legais contra veículos de comunicação e nem sempre leva a cabo ações judiciais, mas processos recentes contra a ABC News e a CBS News terminaram em acordos judiciais que direcionaram fundos para sua futura biblioteca presidencial. Neste caso, não especificou exatamente o motivo pelo qual iria processar o jornal, embora a sua equipe tenha mencionado “mentiras difamatórias”.
Caso Epstein
Trump lançou ataques contra os próprios eleitores na noite de quarta-feira 16, enquanto tenta abafar críticas pela forma como seu governo lidou com os tão alardeados documentos da investigação sobre os crimes sexuais de Jeffrey Epstein. Ele afirmou que seus apoiadores “foram enganados pelos democratas” e chamou-os de “fracos”.
No imbróglio, Trump caiu numa armadilha que ele mesmo montou: depois que Epstein cometeu suicídio na prisão em 2019, o republicano prometeu divulgar os arquivos da investigação caso retornasse à Casa Branca e nutriu uma teoria da conspiração dentro do seu movimento Make America Great Again (MAGA) – sobre uma lista secreta de poderosos que se beneficiavam do esquema de Epstein.
Agora, sem a publicação da “lista de Epstein” pelo governo, cuja existência não é comprovada, muitos começaram a sugerir que o presidente americano estaria entre os nomes.
Ao longo da campanha eleitoral, Trump incentivou conspirações ao alegar que o país era controlado por elites obscuras do “Estado profundo”, cultivando um sentimento de paranoia no movimento MAGA. Agora, a desconfiança nutrida saiu pela culatra: seus apoiadores suspeitam de que o republicano, que era próximo a Epstein nos anos 2000, esteve envolvido de alguma forma no escândalo de abuso sexual.