Além de atuar, Jonas Bloch, 86 anos, escreve, dirige e assina a cenografia do espetáculo Delírio, inspirado no trabalho do escritor Manoel de Barros. Concebido pelo próprio ator, a peça, em cartaz no Teatro Vannucci, no Shopping da Gávea, no Rio, faz um mergulho poético nas múltiplas facetas de Barros — um dos maiores poetas brasileiros do século XX. Recentemente, Jonas protagonizou o longa Viva a Vida, disponível na Netflix. Sua filha, Debora Bloch, está no ar como Odete Roitman em Vale Tudo. Para a coluna GENTE, o o ator revela o segredo de um ritual que segue todas as manhãs, além de avaliar o trabalho da herdeira na TV Globo e as mudanças recentes da profissão, com os influenciadores atores.
No monólogo Delírio o senhor escreve, dirige e atua, tudo isso aos 86 anos. Qual foi a motivação para a peça? A primeira é o meu prazer de realizar minha vocação. Não me sinto trabalhando, me sinto exercendo a minha vocação; e isso me dá uma alegria grande. Em segundo lugar, a qualidade do trabalho de Manoel de Barros, que é um recado muito lindo para se passar adiante. Sabe quando você lê alguma coisa que te entusiasma e você quer contar para os outros e compartilhar? É um pouco isso.
Quais são as dores e delícias do envelhecimento? No meu caso é um caso especial, porque não me sinto um velho. Sei que tenho idade de um velho, mas internamente não me sinto assim. Tenho boa saúde, me cuido com alimentação, exercício, e o guaraná em pó sempre. Há anos faço isso. Todo dia de manhã tomo guaraná em pó. É uma coisa que as pessoas não acreditam, mas está aqui o exemplo vivo de como ele faz bem.
Débora está no ar como Odete. Mesmo com muitos anos de carreira, ela ainda te pede conselhos? Ela é uma mestra, ela que deve dar conselhos para todo mundo.
O senhor assiste à novela? Gostou das mudanças? Imagina, estou precisando comprar uns babadores. Débora, como criei depois de um certo tempo, veio morar comigo e quando não tinha empregada, no fim de semana especialmente, eu a levava para o teatro. Então, ela conviveu com a Beatriz Segall (atriz da primeira versão, de 1988) desde menina, e tempos depois fez a neta dela numa novela.
Tem palpite para o assassino? Menor ideia.
Sua última novela foiuma participação especial em Elas por Elas (2024). Voltaria a fazer outras? Com toda certeza. E vou fazer muitos filmes. Tem filme para ser lançado e tenho três propostas, que não sei quando vai ser. Mas um filme é para o ano que vem e uma minissérie que seria para o final do ano.
Sente escassez de papeis nessa fase da vida? Existe, isso é uma injustiça que certos autores fazem. Autores antigos, que tem experiência de vida, deviam usar essa experiência e criar personagens com bagagem. No entanto, eles continuam fazendo um esquema tradicional, que a novela se baseia em ‘com qual dos dois a mocinha vai ficar’. É comum a gente ser chamado para se fazer pai e avô, sem grandes consistências no papel.
A profissão de ator vem mudando nos últimos anos. O que pensa dos atores influencers? Isso é uma ferida muito feia no universo da arte. Não que não possa ter um influenciador com talento, não é isso. Pode existir, mas essa motivação de levar a arte para o mundo econômico é a pior coisa que existe. Isso é uma doença que está se instalando dentro do universo artístico. É uma vergonha também porque essas pessoas, que escolhem esse caminho, não são do nosso meio, deviam ser expulsos do nosso meio. Quem troca uma pessoa que tem influência por um artista? Tem uma frase na peça Galileu Galilei, que diz assim: ‘A verdade é filha do tempo, não da autoridade’. O tempo vai mostrar, para essas pessoas que fazem isso, que elas vão cair.