O Vaticano negou nesta quarta-feira, 12, que Jesus Cristo tenha aparecido 49 vezes na cidade de Dozulé, na região francesa de Normandia, como alegou uma mãe católica na década de 1970. Na época, Madeleine Aumont disse que Jesus tinha ditado várias mensagens a ela e orientado que uma cruz de 7,38 metros fosse erguida numa colina da região para a remissão dos pecados e a salvação dos que se aproximassem dela.
Os episódios teriam acontecido entre 1972 e 1978. A cruz, segundo Madeleine, deveria ser totalmente iluminada e em medidas específicas para poder ser vista de longe. Várias réplicas em tamanhos menores se espalharam pelos países ao longo dos anos. Ainda em 1983, o então bispo diocesano, Jean-Marie-Clément Badré, já havia negado que a construção poderia “ser um sinal autêntico da manifestação do Espírito de Deus”. Dois anos mais tarde, ele voltou a condenar a cruz e falou em “propaganda fanática”.
“Com relação ao que está acontecendo em Dozulé — a atividade e a agitação, a arrecadação de fundos por pessoas que agem por iniciativa própria, sem mandato e sem respeito à autoridade do Bispo; […] a propaganda fanática em favor da ‘mensagem’; […] a condenação categórica daqueles que não a ela aderem — sou levado, em consciência, a julgar que, além de toda essa agitação, não discerno os sinais que me autorizariam a declarar as alegadas ‘aparições’ como autênticas, nem a reconhecer uma missão dada à Igreja para difundir essa ‘mensagem’”, disse ele, segundo o portal de notícias Vatican News.
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Igreja ‘vigilante’
Agora, o Dicastério para a Doutrina da Fé apoiou as conclusões do bispo após apoio do papa Leão em 3 de novembro. Em carta, o cardeal Victor Manuel Fernández citou uma série de riscos, incluindo a comparação da “cruz solicitada em Dozulé com a Cruz de Jerusalém”.
A equiparação “corre o risco de confundir o sinal com o mistério e de dar a impressão de que o que Cristo realizou de uma vez por todas poderia ser ‘reproduzido’ ou ‘renovado’ em um sentido físico”. O órgão também relembrou que a mulher havia dito que o mundo acabaria antes do ano 2000, argumentando: “Claramente, essa suposta profecia não foi cumprida”.
“A Cruz não precisa de 738 metros de aço ou concreto para ser reconhecida”, declarou o Dicastério, mas “se ergue cada vez que um coração, movido pela graça, se abre ao perdão; cada vez que uma alma se converte; cada vez que a esperança se renova onde a situação parecia impossível; e até mesmo quando, ao beijar uma pequena cruz, os fiéis se entregam a Cristo”.
“Embora o tema da volta do Senhor seja parte integrante da fé cristã, a Igreja — ao recordar que a volta de Cristo é uma verdade da fé, mesmo que ninguém possa saber ou prever a data exata ou os seus sinais — permanece vigilante contra interpretações milenaristas ou cronológicas, que correm o risco de fixar o tempo ou determinar as modalidades do Juízo Final”, acrescentou o texto.