O gabinete do Japão aprovou nesta sexta-feira, 26, um orçamento de defesa recorde para o próximo ano fiscal, de mais de 9 trilhões de ienes (cerca de R$ 320 bilhões, na cotação atual), valor 9,4% maior que o montante anterior. A medida ocorre no quarto dos cinco anos de um programa japonês para dobrar seus gastos anuais com armamentos até atingir 2% do PIB, e também em meio a uma escalada de tensões com a China. Pequim, por sua vez, acusou Tóquio de “alimentar uma corrida armamentista espacial”.
O plano orçamentário concentra-se no fortalecimento das capacidades japonesas de contra-ataque e das defesas costeiras, com mísseis superfície-mar e arsenais não tripulados. Para defender o litoral, o Japão investirá 100 bilhões de ienes (R$ 3,5 bilhões) na implantação de drones aéreos, marítimos e submarinos para vigilância e defesa, sob um sistema chamado “Escudo”. Espera-se que o sistema esteja operante em março de 2028, segundo autoridades do Ministério da Defesa.
Pequim há tempos se opõe ao fortalecimento das capacidades defensivas do Japão. Mas a postura se intensificou desde que os laços entre os países se deterioraram no mês passado, quando a primeira-ministra Sanae Takaichi afirmou que entraria em guerra com a China no caso de um ataque a Taiwan para anexar a ilha próxima ao território japonês.
As declarações de Takaichi provocaram uma reação furiosa do governo chinês, que lançou uma série de retaliações diplomáticas e econômicas contra Tóquio. Mesmo assim, a premiê japonesa se recusou a pedir desculpas e a retirar suas declarações, e qualquer anúncio da nação sobre o setor de defesa vem alimentando críticas de Pequim.
Na quinta-feira 25, o Ministério da Defesa da China afirmou, em coletiva de imprensa regular, que os recentes avanços tecnológicos espaciais do Japão – alguns dos quais em cooperação com os Estados Unidos – estavam “acelerando a militarização e a incorporação de armas no espaço, e alimentando uma corrida armamentista espacial”. Desde março de 2023, Tóquio lançou no espaço diversos foguetes transportando satélites para sistemas de GPS e coleta de informações.
“Considerando que os militaristas japoneses já lançaram ataques surpresa e que o país agora adota uma política espacial ofensiva, não é de se surpreender que haja crescentes preocupações com um novo cenário como o de Pearl Harbor”, disse o porta-voz do Ministério da Defesa chinês, Zhang Xiaogang, citando o ataque surpresa japonês contra uma base naval dos Estados Unidos no Havaí, em 1941, que precipitou a entrada dos americanos na II Guerra Mundial.
A Constituição japonesa do pós-guerra proíbe o uso da força como meio de resolver disputas internacionais, mas uma emenda de 2015 – aprovada quando o mentor de Takaichi, Shinzo Abe, era primeiro-ministro – permite o exercício da “autodefesa coletiva” em certas situações, mesmo que o país não esteja diretamente sob ataque. Isso poderia permitir engajamento militar no cenário de uma invasão chinesa a Taiwan.
Zhang também desferiu críticas contra os Estados Unidos, que aprovou uma maciça venda de armas a Taiwan na semana passada, de valor superior a US$ 10 bilhões. Na semana passada, o Senado americano também aprovou a Lei de Autorização de Defesa Nacional, que inclui a permissão para gastar até US$ 1 bilhão em 2026 em cooperação em segurança relacionada à ilha autônoma que a China reivindica como parte de seu território. O porta-voz do Ministério da Defesa acusou Washington de “incentivar a independência de Taiwan” e de minar a paz e a estabilidade na Ásia.