O cientista americano James Watson, que aos 25 anos participou da descoberta da estrutura do DNA, morreu na quinta-feira, 6, em Nova York. A família confirmou a informação por meio das redes sociais. Ele, que tinha 97 anos, estava em um centro de cuidados paliativos, para onde foi transferido de um hospital onde tratava uma infecção.
James Dewey Watson nasceu em Chicago, Illinois, em 6 de abril de 1928. Ele frequentou a Horace Mann Grammar School e a South Shore High School na cidade. Em 1947, obteve seu B.Sc. em Zoologia pela Universidade de Chicago. Seu interesse juvenil pela observação de pássaros evoluiu para um profundo desejo de estudar genética. Em 1950, ele concluiu seu Ph.D. em Zoologia na Universidade de Indiana em Bloomington, sob a orientação de S. E. Luria. Sua tese de doutorado focou no efeito de raios X fortes na multiplicação de bacteriófagos.
Após o doutorado, Watson passou seu primeiro ano de pós-doutorado (setembro de 1950 a setembro de 1951) em Copenhague. Foi durante a primavera de 1951, em um simpósio em Nápoles, que ele encontrou Maurice Wilkins e viu pela primeira vez o padrão de difração de raios X do DNA cristalino. Essa visualização o estimulou fortemente a mudar o foco de sua pesquisa para a química estrutural de ácidos nucleicos e proteínas. Em outubro de 1951, Watson começou a trabalhar no Cavendish Laboratory, em Cambridge.
A Descoberta da Dupla Hélice
Em Cambridge, Watson rapidamente conheceu Francis Crick, e ambos descobriram um interesse comum em resolver a estrutura do DNA. Eles acreditavam ser possível deduzir a estrutura combinando as evidências experimentais disponíveis no King’s College com o exame cuidadoso das possíveis configurações estereoquímicas das cadeias de polinucleotídeos.
Em março de 1953, seu segundo grande esforço resultou na proposta da configuração complementar da dupla hélice. Em 25 de abril de 1953, James Watson e Francis Crick publicaram um artigo na revista científica Nature descrevendo o formato do DNA. O artigo, intitulado “Molecular Structure of Nucleic Acids: A Structure for Deoxyribose Nucleic Acid”, descreveu a molécula como sendo composta de duas fitas ligadas que se enrolam como uma escada em caracol, o formato conhecido como dupla hélice.
Reconhecimento e Controvérsia:
A descoberta da dupla hélice abriu um novo campo de pesquisa na ciência. Watson e Crick dividiram o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1962 com Maurice Wilkins. É importante notar que o trabalho se baseou em uma quantidade considerável de dados não publicados de Rosalind Franklin e seu aluno Raymond Gosling, pesquisadores do King’s College London. Maurice Wilkins mostrou a Watson a famosa Fotografia 51 (uma imagem de DNA feita por difração de raio X), sem o conhecimento ou consentimento de Franklin. Esta fotografia foi a evidência crucial para identificar a estrutura do DNA.
Em 1968, Watson publicou seu controverso relato autobiográfico sobre a descoberta, A Dupla Hélice (The Double Helix), onde, segundo alguns relatos, minimizou o papel de Rosalind Franklin.
Carreira Pós-Descoberta e Controvérsias Finais
Após a descoberta, Watson continuou a se dedicar à pesquisa. De 1953 a 1955, ele foi Senior Research Fellow em Biologia no California Institute of Technology. A partir de 1956, ele se tornou membro do Departamento de Biologia de Harvard, alcançando o cargo de Professor em 1961. Seu principal interesse de pesquisa neste período foi o papel do RNA na síntese de proteínas. Em sua carreira posterior, James Watson dirigiu o Projeto Genoma Humano no National Institutes of Health.
Contudo, a fase final de sua carreira foi marcada por controvérsias graves e declarações racistas. Em 2007, Watson foi forçado a deixar seu posto de reitor do prestigioso Laboratório Cold Spring Harbor (CSHL) após declarar que as políticas de cooperação para o desenvolvimento na África se baseavam na premissa falsa de que a inteligência dos africanos era a mesma que a ocidental, uma visão que ele afirmava ser contrariada por “todas as evidências”.
Em 2014, ele leiloou sua medalha de ouro do Nobel, vendendo-a por 4,8 milhões de dólares (cerca de 18 milhões de reais) para compensar a queda de seus rendimentos após seu ostracismo. A medalha foi comprada e devolvida a ele pelo magnata russo Alisher Usmanov. Em 2019, no documentário Decoding Watson, ele reiterou suas teorias, afirmando que a diferença nos resultados dos testes de inteligência entre brancos e negros seria genética.
Após esta última declaração, o Cold Spring Harbor Laboratory (CSHL) emitiu uma nota repudiando suas opiniões como “infundadas e imprudentes”, destituindo Watson de todos os seus títulos honorários e cortando relações com o cientista. O laboratório condenou explicitamente o mau uso da ciência para justificar o preconceito.