As forças de segurança do Irã “prenderam violentamente” a vencedora do prêmio Nobel da Paz de 2023, Narges Mohammadi, informou a sua fundação nesta sexta-feira, 12. Ela, que estava detida na época, foi agraciada com a láurea “pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e pela sua luta para promover os direitos humanos e a liberdade para todos”.
“A Fundação Narges exige a libertação imediata e incondicional de todos os indivíduos detidos que participavam de uma cerimônia em memória de um advogado para prestar suas homenagens e demonstrar solidariedade”, disse em comunicado. “Suas prisões constituem uma grave violação das liberdades fundamentais.”
Em dezembro de 2024, Mohammadi recebeu uma libertação temporária por motivos médicos — na época, tratava uma lesão óssea descoberta durante uma cirurgia de emergência após sofrer ataques cardíacos enquanto estava detida. Ela era mantida na prisão de Evin, em Teerã, desde 2021. A nova detenção teria ocorrido enquanto ela participava de uma cerimônia em memória de Khosrow Alikordi, advogado encontrado morto em seu escritório na semana passada, na cidade de Mashhad, no leste do país. Outros ativistas também foram levados.
“Eles prenderam Narges violentamente. O irmão do advogado testemunhou a prisão dela no memorial”, afirmou o marido de Mohammadi, Taghi Rahmani, ao braço persa da emissora britânica BBC. “Este ato viola as leis de direitos humanos e equivale a uma espécie de vingança.”
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Quem é Narges Mohammadi?
A ativista iniciou sua carreira quando estudava física na faculdade, nos anos 1990, onde defendia a igualdade e os direitos humanos das mulheres. Após concluir o curso, trabalhou como engenheira e tornou-se colunista de vários jornais reformistas.
Em 2003, Mohammadi se envolveu com o Centro de Defensores dos Direitos Humanos em Teerã, uma organização fundada pela ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Shirin Ebadi, no mesmo ano. No entanto, o governo considerou o grupo ilegal em 2015, levando-a a ser presa e condenada um ano depois por ser porta-voz do grupo.
Os seus 30 anos de ativismo para trazer, através do pacifismo, mudanças de base ao Irã por meio da educação, articulação e desobediência civil e para fortalecer a sociedade tiveram um preço elevado: a sua carreira como engenheira, a sua saúde, a separação do seu marido, filhos e pais, e a sua liberdade. Ela chegou a ser condenada a 10 anos e 6 meses.
País fechado em si mesmo, o Irã adotou como norma reprimir, abafar e jogar para debaixo do tapete toda e qualquer rebelião contra a ditadura dos aiatolás. O Nobel da Paz de 2023, segundo o comitê, também reconheceu as centenas de milhares de iranianos que, no ano passado, foram às ruas contra as políticas de discriminação contra as mulheres do regime dos aiatolás. O lema dos manifestantes era “Mulher, Vida, Liberdade”.
A onda de protestos tomou conta do país depois que Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos, foi presa porque seu hijab, lenço de cabeça obrigatório para mulheres no país, deixava algumas mechas de cabelo à mostra. Ela veio a morrer sob a custódia da polícia da moralidade.