O Irã condenou Israel pelo assassinato do chefe militar do Hezbollah, Haytham Ali Tabatabai, um dia após o comandante da facção apoiada pelo regime dos aiatolás ter sido alvo de um ataque na capital libanesa, Beirute.
“O Ministério das Relações Exteriores do Irã condena veementemente o assassinato covarde do grande comandante da Resistência Islâmica Libanesa, o mártir Haytham Ali Tabatabai”, afirmou a pasta em comunicado.
Tabatabai era considerado o segundo em comando do grupo, logo abaixo do secretário-geral Naim Qassem. O Hezbollah o homenageou como um “grande comandante jihadista” e afirmou que ele “dedicou sua vida à resistência”.
O ataque
Um ataque aéreo em Haret Hreik, subúrbio do sul de Beirute, no domingo 23 matou Haytham Ali Tabatabai, bem como outras cinco pessoas, e deixou mais 28 feridos. A agência de notícias estatal informou que três mísseis foram disparados contra o prédio e vídeos mostraram prédios danificados na área densamente povoada, considerada um reduto do Hezbollah.
Os disparos aumentaram drasticamente as tensões com a facção libanesa quase exatamente um ano após o cessar-fogo que pôs fim a 14 meses de confrontos na fronteira Israel-Líbano, um acordo, como o de Gaza, mediado e patrocinado pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos.
Israel lançou ataques aéreos cada vez mais frequentes no sul do Líbano neste mês, alegando que o objetivo é impedir o ressurgimento militar do Hezbollah nas colinas ao norte da fronteira de facto entre as nações. A campanha, segundo as forças israelenses, também visa aumentar a pressão sobre as autoridades e o Exército libaneses para acelerarem o processo de desarmamento da organização, uma exigência fundamental do acordo de trégua do ano passado.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse ao seu gabinete antes do ataque que Israel continuaria a combater o “terrorismo” em várias frentes. “Continuaremos a fazer tudo o que for necessário para impedir que o Hezbollah restabeleça sua capacidade de nos ameaçar”, afirmou.
Após o bombardeio, seu gabinete declarou em comunicado: “No coração de Beirute, as Forças de Defesa de Israel atacaram o chefe do Estado-Maior do Hezbollah, que vinha liderando o fortalecimento e o rearmamento da organização terrorista. Israel está determinado a agir para alcançar seus objetivos em todos os lugares e em todos os momentos.”
As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) insistiram, na noite de domingo, que “permanecem comprometidas” com o cessar-fogo. Um alto funcionário americano afirmou que Israel não notificou Washington com antecedência sobre o ataque, segundo reportagem do portal de notícias Axios, apenas posteriormente. Mas a autoridade sublinhou que os Estados Unidos “sabiam há dias” que Tel Aviv planejava intensificar a ofensiva no Líbano.
Quem era o chefe militar
Tabatabai, 58 anos, que ingressou no Hezbollah ainda adolescente, logo após sua fundação no início da década de 1980. Há uma década, escapou de uma tentativa de assassinato israelense, e em 2016 os Estados Unidos impuseram sanções a ele ao identificá-lo como comandante das forças especiais da facção libanesa na Síria e no Iêmen. Sua cabeça foi posta a prêmio por US$ 5 milhões.
O comandante liderou combatentes de elite do Hezbollah em apoio ao ex-ditador sírio Bashar al-Assad, e acredita-se que tenha treinado as forças rebeldes hutis no Iêmen. O grupo iemenita, como o libanês, mantém relações estreitas com o Irã.
Tabatabai conseguiu escapar da campanha israelense de assassinatos seletivos contra os principais comandantes do Hezbollah durante os confrontos desencadeados pela invasão do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023. Em setembro do ano passado, um ataque aéreo em Beirute matou o líder veterano do grupo, Hassan Nasrallah, e, quando o cessar-fogo Israel-Líbano foi assinado algumas semanas depois, quase toda a sua liderança militar havia sido eliminada.
Cumprimento da trégua
O Hezbollah insiste ter cumprido as exigências para encerrar sua presença militar na região fronteiriça com Israel, onde deve ser substituído pelo Exército formal do Líbano.
O presidente libanês, Josef Aoun, pediu que a comunidade internacional intervenha firmemente para deter os ataques israelenses ao país. Beirute “reitera seu apelo à comunidade internacional para que assuma sua responsabilidade e intervenha de forma firme e séria para deter os ataques contra o Líbano e seu povo”, disse ele em um comunicado.
O jornal israelense Haaretz informou na semana passada que o “ponto de conflito imediato” agora está “no Líbano, não em Gaza”, enquanto Amit Segal, jornalista próximo ao governo de coalizão de Netanyahu, afirmou que “uma escalada dramática contra o Hezbollah” é “mais provável do que improvável”.