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‘Importamos café do Brasil e o vendemos de volta’, diz CEO da llycaffè

Fundada em 1933 em Trieste, a Illycaffè, como centenas de empresas italianas, partiu do núcleo familiar para se tornar referência global em café de alta qualidade, servindo diariamente mais de 10 milhões de xícaras em mais de 140 países. A empresa começou a fazer sucesso quando o fundador Francesco Illy inventou a Illetta, a “avó” das máquinas de expresso, e um método revolucionário de conservação (a pressurização), que mantém intactas a qualidade do produto e permite exportá-lo. Nos anos 1940, as latas da Illy chegavam até Suécia e Holanda. Em 2024, o faturamento da empresa foi de 630 milhões de euros. Andrea Illy, neto do fundador e atual presidente, esteve em Roma para participar do 34º Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café para Expresso e explicou à plateia que beber café não é simples: “virou uma experiência”.

A celebração ocorreu na FAO, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, e reuniu 27 produtores de nove países que fornecem grãos à illycaffè, incluindo as fazendas mineiras Serra de São Bento, Sequóia Minas e Nova Esperança.

Entre uma xícara de café e outra, Illy conversou com o Radar Econômico, falando em português, e lembrou que italianos imigraram para o Brasil justamente para plantar café. E hoje o grão brasileiro faz a fama do made in italy e também renova o mercado nacional. “Houve uma transformação cultural no Brasil. Além de líder em quantidade e qualidade, o país passou a desenvolver o consumo interno de cafés gourmet”, diz o empresário, que pretende conquistar 10% do mercado brasileiro.

O café italiano não é cultivado no país, mas o “espresso” é famoso no mundo inteiro. Qual é a explicação para isso? O início do consumo de café na Europa começa exatamente na Itália, mais precisamente em Veneza, e também em Viena, por volta da metade do século XVII. Imediatamente, vira uma convenção social: as pessoas se encontram para compartilhar cultura, arte e ideias. Nosso país também contribuiu com técnicas e tecnologias de transformação. Três inovações radicais do setor nasceram aqui.

Quais são elas? O próprio café expresso; o sistema de pressurização, que substitui o ar por gás inerte para preservar os aromas; em finalmente, o sachê por porção.

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E a moka (cafeteira típica italiana) também faz parte dessa história? Sim, claro. Houve várias formas de preparo, mas o expresso permitiu extrair o melhor dos aromas do café. E, quando havia cheiros “ruins”, eles também podiam ser percebidos, o que estimulou a seleção e o aperfeiçoamento dos grãos.

Como começou essa “conversa” entre a Illycaffè e os produtores brasileiros? Tudo começou em 1991, quando uma crise de preços reduziu a qualidade do café. Decidimos então trabalhar com os cafeicultores para incentivá-los a cultivar produtos de alta qualidade.

E como foi recebida essa ideia? Foi uma descoberta para os produtores brasileiros, que perceberam que podiam unir qualidade e rentabilidade, vendendo o café a preços muito mais altos. Assim começou a nossa “aventura”.

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O Prêmio Ernesto Illy existe há quanto tempo? Há 34 anos. Os finalistas do prêmio internacional são selecionados na edição brasileira, organizada todos os anos em maio, em São Paulo.

Como é a relação da illycaffè com as instituições brasileiras? Sempre excelente. Trabalhamos com os governos de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, além de instituições federais como a Embrapa. Também colaboramos com universidades, como a de Viçosa.

Hoje se fala muito em agricultura regenerativa. Como isso entrou na illycaffè? Lançamos essa iniciativa em um período difícil, durante a pandemia de Covid e o início da guerra na Ucrânia, quando os fertilizantes e insumos estavam caríssimos. Os produtores começaram a adotar práticas regenerativas, mais baratas e sustentáveis. Foi uma ótima surpresa.

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Qual a importância do mercado brasileiro para a illycaffè? Paradoxalmente importamos café do Brasil e o vendemos de volta. A participação ainda é pequena, cerca de 1% a 2% do mercado, mas está crescendo e é um negócio sustentável e economicamente sólido.

Existe uma meta de crescimento para os próximos anos? Sim, esperamos chegar a 10%.

Qual é o perfil do novo consumidor de café? O que mudou? Houve uma transformação cultural no Brasil. Além de líder em quantidade e qualidade, o país passou a desenvolver o consumo interno de produtos especiais. Muitas cafeterias e restaurantes começaram a produzir o café gourmet, e surgiu a Associação Brasileira de Cafés Especiais, criando um mercado próprio e uma nova geração de apreciadores.

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Na Itália, o costume é tomar café em pé ou sentado? Tradicionalmente, em pé. O nome “espresso” vem justamente disso: é preparado e servido rapidamente, especialmente para você, no balcão. É uma experiência única, intensa e de alta qualidade.

E o senhor prefere ficar em pé ou sentado? Qualquer um! Mas em pé é mais típico.

Existe um plano para abrir cafeterias Illy no Brasil? Nossa estratégia é parecida com a que temos com os produtores: ajudar os parceiros a melhorar a qualidade do serviço e a gestão. A Universidade do Café, criada por nós, tem um departamento dedicado às cafeterias, para treinar donos e baristas. Hoje servimos cerca de 100 mil cafeterias em 140 países, é a marca de café mais global.

 

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