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Imaginem o cenário: mulheres de direita presidem Colômbia e Venezuela

Irá María Corina Machado deixar a Venezuela para receber o Nobel da Paz amanhã na Noruega? Será presa ao tentar sair ou ao tentar voltar? Voltará presidente? O regime de Nicolás Maduro tem condições de intimidá-la? Estas são algumas das questões que cercam o momento vertiginoso vivido pela indômita líder da oposição, uma das mulheres de direita que podem mudar o panorama político na América Latina.

A outra ainda não está definida, mas será uma das três “generais” que fizeram um pacto de apoiar a que sair vencedora na disputa pela candidatura presidencial pelo Centro Democrático, que é de direita, apesar do nome. São elas as senadoras María Fernanda Cabal, Paloma Valencia e Paola Holguín,

E por que são chamadas de generais? “Deve ser porque temos famas de ser bravas”, responde Paola Holguín. Nos debates no Senado, nos programas jornalísticos e nas redes sociais, a fama se confirma plenamente, com todas caindo de pancadas no presidente Gustavo Petro, um alvo fácil pela capacidade de falar besteiras, às vezes embalado em umas e outras, mas que não pode ser descartado como influenciador político.

Ao contrário, a esquerda tem um nome forte, Iván Céspeda, comunista que se afastou da ortodoxia do partido no qual militou por influência do pai, assassinado por um grupo paramilitar em 1994. É uma narrativa forte e Céspeda tem um reconhecimento muito maior do que a potencial candidata da direita. Entrar numa eleição como um nome conhecido já é uma vantagem enorme (o primeiro turno será no próximo 31 de maio; o segundo, em 21 de junho).

NOVA CONFIGURAÇÃO

Se não fosse a horrível história colombiana de assassinatos de candidatos presidenciais, o nome do Centro Democrático possivelmente seria o de Miguel Uribe, cujo pai, de mesmo nome, quer disputar a presidência em memória do filho, vitimado por uma bala na cabeça durante um comício – outra figura da direita que sofre um atentado quando sobe nas preferências populares.

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Por trás de todas as articulações está, como sempre, o ex-presidente Álvaro Uribe (sem laços de parentesco com o pré-candidato assassinado), que continua a ser a principal referência da direita na Colômbia.

Uma mudança de orientação política na Venezuela e na Colômbia, além do Peru (onde Keiko Fujimori disputará a presidência de novo no ano que vem) e a dada por garantida eleição de José Antonio Kast no Chile agora no próximo dia 14, mudaria toda a configuração ideológica da região. O “bloco da direita” já existente, formado por Argentina, Paraguai, Equador e agora Bolívia, mais seus novos integrantes, deixaria o Brasil do presidente Lula da Silva em posição de marcante isolamento. O barulho do desmoronamento do Foro de São Paulo será ouvido em todo o continente e até fora dele. A saída parece ser fazer as pazes com Donald Trump, uma obviedade que até o Itamaraty percebeu.

Na Europa, também haverá mudanças futuras, em especial no Reino Unido, com a ascensão de Nigel Farage, do novato partido Reforma. Infelizmente, os conservadores sabotaram a si mesmo e deixaram pouco espaço para uma notável liderança de direita, Kemi Badenoch, que andava apagada apesar da eloquência e da precisão das ideias.

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Diante dos erros sucessivos do Partido Trabalhista, Kemi assumiu uma posição mais destacada e se mostrou uma debatedora daquelas que fazem as delícias de quem assiste as sessões semanais do Parlamento. A ministra da Economia, Rachel Reeves, que tentou apelar para o preconceito de gênero quando a nação em peso se revoltou contra seu programa econômico, apunhalou Kemi: “Não é porque você é mulher, é porque é incompetente”.

TEMPOS INTERESSANTES

A variedade de orientações de mulheres em posições de destaque na política hoje permite isso: ninguém precisa fingir que é “amiguinha”. Dá para elogiar a primeira-ministra Georgia Meloni, nem que seja pelo simples fato de ter sobrevivido até agora na instável política italiana, e se espantar com a primeira-ministra Sanae Takaichi, que mal assumiu e já se jogou num confronto com a China sem parecer ter um plano claro para a posição a ser seguida pelo Japão.

A nova configuração que se desenha na América do Sul não tem nada a ver com o gênero das pessoas em destaque na política – o que não deixa de ser um alívio, embora obviamente retrate o resultado da crescente participação das mulheres nos debates que realmente interessam: qual a melhor forma de governar países tão ricos em recursos e tão fracos em soluções.

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Uma personalidade forte e carismática como María Corina Machado nunca apelou para “o fato de ser mulher”. Assumiu a posição de líder na marra, superando a rejeição que provocava mesmo entre os antimaduristas, por ser boa de briga e passar uma enorme convicção.

Se vier a ser eleita presidente da Venezuela, saberá a líder oposicionista de temperamento incandescente manejar um país arruinado, cheio de remanescentes do bolivarianismo e precisando desesperadamente de acordos político e do tipo de reforma econômica cujos resultados demoram para aparecer?

Ao contrário da Argentina, onde uma situação com certas similaridades é vivida por Javier Milei, a Venezuela tem petróleo para bancar a guinada para tirar o pé da lama.

Tempos muito interessantes estão pela frente.

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