Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros na Ilha de Trindade, no Espírito Santo, revelou uma recuperação surpreendente da vegetação nativa após a eliminação de uma espécie invasora: as cabras. Introduzidas no século XVIII, esses animais se multiplicaram rapidamente e devastaram a flora local, mas sua remoção em 2005 permitiu que a natureza se regenerasse de forma impressionante.
Entre 1994 e 2024, a área florestal da ilha aumentou 1.468%, ganhando 65 hectares de novas árvores. Já as pastagens cresceram 319%, com 325 hectares a mais de vegetação. O estudo, publicado no Journal of Vegetation Science, foi conduzido por pesquisadores do Museu Nacional/UFRJ e mostra como ecossistemas degradados podem se recuperar quando as causas da destruição são combatidas.
Sem predadores naturais, as cabras consumiram quase todas as plantas da ilha, dificultando a sobrevivência das espécies nativas. No entanto, os pesquisadores descobriram que outros fatores ambientais, como a quantidade de chuva, também influenciaram a degradação e a recuperação. Anos mais chuvosos aceleraram o crescimento das florestas, principalmente quando a população de cabras já estava reduzida. Já em períodos secos, o estrago causado pelos animais foi ainda maior.
“As ilhas têm ecossistemas frágeis, com espécies únicas que não existem em outros lugares. Qualquer desequilíbrio pode levar à extinção dessas plantas e animais. Nosso estudo vai além da Ilha de Trindade: ele ajuda a entender como a natureza responde quando removemos as ameaças”, explicou Nílber Gonçalves da Silva, professor da UFRJ e orientador da pesquisa.
A pesquisa demonstra que, mesmo após danos graves, a natureza pode se recuperar — desde que as causas da degradação sejam combatidas de forma eficaz. Os cientistas destacam que estratégias de restauração devem considerar não apenas as espécies invasoras, mas também as mudanças climáticas, que podem alterar a forma como a vegetação se regenera.
“Esse conhecimento é crucial num mundo em transformação climática, onde os padrões de chuva e seca estão mudando”, afirmam os pesquisadores. A lição da Ilha de Trindade é clara: com medidas adequadas, até os ecossistemas mais afetados podem voltar à vida.
(Com Agência Brasil)