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Hospedagem em Belém na COP30 tem valor de cinco estrelas em Paris

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, no Pará, tem enfrentado um desafio: abrigar muitas delegações sem ter uma grande rede hoteleira. Entre a alta demanda e baixa oferta, o resultado foi uma disparada dos preços nas hospedagens, um problema que o governo federal tenta contornar para aplacar as críticas de delegações.

Como mostrou uma recente reportagem de VEJA, um hotel de duas estrelas na cidade amazônica saía R$ 25 mil pelos onze dias do evento — mais caro do que em quartos pomposos em Nova York e Paris na mesma época. Uma casa de alto padrão em Belém era ofertada por R$ 2.232.538, enquanto, na Cidade Luz, o Four Seasons Hotel George V, que recebeu a alcunha de “palácio”, cobrava R$ 140.002 pelo período.

Nada ajuda o fato da cúpula dos chefes de Estado da COP30 ter sido adiantada para os dias 6 e 7 de novembro — a conferência, como um todo, permanece na data anterior, de 10 a 21 de novembro. A crise é tamanha que o Brasil está sendo pressionado por outros países a abandonar a ideia de sediar o maior encontro climático do mundo em Belém.

Na quinta-feira, 31, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, criticou os valores “completamente abusivos” da hospedagem na cidade, mas afirmou que governo federal, através da Casa Civil, tenta negociar com o setor para reduzir os preços das diárias.

“Tornou-se público que diversos países do grupo que faz parte da administração da convenção (enxergam) a questão do preço dos hotéis como uma preocupação. Representantes de regiões pediram para tirar a COP de Belém. Isso aconteceu em uma reunião anteontem”, contou Corrêa do Lago em um evento do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) com a Associação de Correspondentes Estrangeiros (AIE).

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“Acredito que talvez os hotéis não estejam se dando conta da crise que eles estão provocando”, opinou ele, acrescentando que há “uma sensação de revolta, sobretudo por parte dos países em desenvolvimento, que estão dizendo que não poderão vir à COP por causa dos preços extorsivos que estão sendo cobrados.”

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De delegações a moradores

No final de junho, integrantes de delegações de dois países europeus e um da Ásia disseram a VEJA, sob condição de anonimato, que estão tendo de se adaptar. Um diplomata afirmou que foi necessário “reduzir o número de pessoas que pretendemos enviar”. A insatisfação ganhou terreno, levando o escritório climático da Organização das Nações Unidas (ONU) a realizar uma reunião extraordinária para abordar soluções para Belém, com participação do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). Outro encontro foi marcado para 11 de agosto.

“Recebemos a garantia de que revisitaremos isso no dia 11 para ter certeza se a acomodação será adequada para todos os delegados (…) Não estamos prontos para reduzir os números. O Brasil tem muitas opções em termos de ter uma COP melhor, uma boa COP. Por isso, estamos pressionando para que o Brasil forneça respostas melhores, em vez de nos dizer para limitar nossa delegação”, disse Richard Muyungi, presidente do Grupo Africano de Negociadores, por trás da convocação da reunião, à agência de notícias Reuters.

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Moradores de Belém também estão tendo de lidar com o problema. VEJA teve acesso a relatos de ordens de despejo, que começaram ainda no início do ano, de apartamentos que foram transformados em Airbnb. A universitária Evelyn Ludovina, 21, foi surpreendida com o aviso de que teria 30 dias para deixar o lugar onde morava com a família desde 2020. Para ela, não foi coincidência ter sido no ano da COP30.

“Chegou uma ordem de despejo. Fomos até conversar com outros moradores para ver se também tinham recebido ou se tinha sido só com a gente. Nós sempre pagamos tudo direitinho, tínhamos uma boa relação com o proprietário”, relata Evelyn. “Mas os preços aumentaram muito, achamos tudo aquilo muito estranho. Falamos com outros moradores e confirmamos que eles também tinham sido despejados.”

“Eles (os proprietários) já estavam reformando outros apartamentos para Airbnb. E foi muito complicado conseguir achar outro lugar para morar. A gente saiu com um dia de atraso inclusive, porque estava tudo muito caro. Os aluguéis que estavam mais baratos, os donos estavam cobrando um valor de caução de quatro salários mínimos ou R$ 6-7 mil de adiantamento. Não tinha condições. Fomos procurando, procurando, procurando, e achamos um por sorte.”

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