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Hora de fazer um pit stop: quando fazer demais vira uma forma de fugir

Neste fim de semana, o som dos motores vai dominar Interlagos. Pilotos, equipes e torcidas inteiras se preparam para cada curva, cada segundo decisivo.

Mas há um detalhe que muita gente esquece: até os melhores do mundo só vencem porque sabem a hora de parar.

Na Fórmula 1, o pit stop é estratégico, um instante de pausa para trocar pneus, ajustar o carro, recalibrar o foco. Sem ele, a corrida acaba antes da linha de chegada.

Na vida, nem sempre é diferente. Muitos de nós seguimos acelerando, tentando provar que ainda temos controle. Até que o corpo — ou a mente — começa a avisar que é hora de entrar nos boxes.

Foi exatamente o que aconteceu com meu paciente Daniel.

A corrida sem freios

Daniel não parecia um homem em colapso. Camisa impecável, relógio caro, celular vibrando a cada poucos segundos. Mas a mão tremia enquanto ele tentava segurar o café.

“Disseram que era pânico”, sussurrou. “Mas parecia um infarto.”

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Naquela manhã, ele tinha saído do pronto-socorro pela segunda vez em um mês. No papel, era um caso de sucesso: empresário, pai, referência na sua área. Por dentro, era um corpo em alerta constante, um cérebro acelerando a 200 por hora.

“Eu não posso parar”, ele me disse. “Se eu desacelerar, tudo desmorona.”

Olhei pra ele e respondi: “Daniel, você está dirigindo como um piloto de Fórmula 1 que esqueceu dos freios.”
Ele soltou um riso curto — meio cansado, meio incrédulo. “Você acha que tenho medo de parar?”
“Não”, eu disse. “Acho que você tem medo do que vai te alcançar quando parar.”

E ele ficou em silêncio. Porque, no fundo, sabia: o mesmo impulso que o levou tão longe agora estava cobrando o preço.

A mente que acelera para não sentir

Na terapia cognitivo-comportamental, existe um ciclo simples que explica muito do nosso sofrimento: o que você pensa afeta o que você sente e o que você sente afeta o que você faz.

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Daniel pensava: “Se eu parar, vou fracassar.” Esse pensamento disparava medo. E o medo o empurrava a trabalhar ainda mais. Noites sem dormir, refeições puladas, a agenda lotada como escudo contra o silêncio.

Na cabeça dele, acelerar parecia coragem.

Mas, na verdade, era evitação psicológica. Cada meta batida dava uma descarga rápida de alívio, um pequeno “venci o medo”. Só que esse alívio durava pouco. Logo o medo voltava, mais forte.

E o corpo começou a gritar o que ele não queria ouvir: pare. A verdade é que evitar o medo não o elimina, o alimenta. E quanto mais fugimos dele, mais presos ficamos.

Evitar não é preguiça. É uma estratégia de sobrevivência do cérebro. Ela oferece um alívio momentâneo, mas, a longo prazo, reforça exatamente os medos que tentamos escapar.

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Como saber o momento de ir para o pit stop

Primeiro, perceba o seu pensamento. Pergunte a si mesmo: qual é o pensamento que aparece antes de eu me encher de tarefas, responder todos os e-mails ou dizer “sim” pra tudo?

Muitas vezes, ele começa com medo:

“Se eu parar, vou ficar pra trás.”

“Se eu descansar, vou decepcionar alguém.”

“Se eu não resolver, ninguém mais vai.”

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Anote esse pensamento.

Vê-lo no papel ajuda o cérebro a sair do modo automático e enxergar a verdade por trás da aceleração: o medo está dirigindo.

Então faça a pausa.

Na Fórmula 1, quando o engenheiro grita “Box, box, box!”, o piloto não discute. Ele entra no pit stop. É o momento de revisar, trocar pneus, respirar.

Você também precisa desse pit stop. Não uma viagem cara, não um retiro espiritual, apenas cinco minutos de pausa real.

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Desligue o celular. Respire.

Pergunte-se: O que estou sentindo agora? Se for medo, vergonha ou ansiedade, não fuja. Fique com ela um instante. Esse pequeno intervalo ensina ao cérebro que desacelerar também é seguro.

Aja com propósito

Depois da pausa vem o que eu chamo de movimento ousado: agir com base em valores, não em medo.

Daniel fez isso quando decidiu delegar seus e-mails para uma assistente. “Foi horrível no começo”, confessou. “Achei que estava perdendo o controle. Mas depois de uma semana, percebi o que ganhei: tempo com meus filhos, sono, calma.”

Fazer menos não o fez perder nada, o fez ganhar vida.

Esse é o poder da exposição ao desconforto: pouco a pouco, o cérebro aprende que o medo não precisa mais mandar.

Evitar traz alívio rápido, mas cobra caro depois. Parar exige coragem, mas devolve o controle.

Então, antes da próxima curva, pergunte a si mesmo:
Estou acelerando porque isso tem sentido ou porque tenho medo de parar?

Mesmo os melhores pilotos só vencem porque sabem quando parar.

Se essa coluna te colocou para pensar, me conta? Eu adoro conversar com os leitores no meu perfil do Instagram e espero sua mensagem.

Nos vemos semana que vem.

Até lá, faça uma pausa no seu pit stop, desligue, recarregue.

Em tempo: estarei fazendo o meu na torcida por Lewis Hamilton.

A colunista junto ao piloto britânico Lewis Hamilton
A colunista junto ao piloto britânico Lewis HamiltonFoto: Acervo pessoal/Reprodução
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