Ao menos 13 pessoas foram presas em Hong Kong nesta segunda-feira, 1º, como parte de uma investigação sobre o incêndio mais mortal das últimas décadas na cidade. Os suspeitos foram indiciados por homicídio culposo após autoridades locais apontarem para materiais de reforma inadequados como causa do fogo que consumiu um complexo residencial com sete torres, que deixou pelo menos 151 mortos.
Os prédios passavam por uma reforma no momento do incêndio, na última quarta-feira 26. Os andaimes usados eram de bambu, um material altamente inflamável, enquanto a perícia concluiu em testes que a tela verde que envolvia os andaimes não atendiam aos padrões de resistência ao fogo. O isolamento de espuma também alimentou as chamas.
O Secretário-Chefe Eric Chan, uma das autoridades responsáveis pelas investigações, afirmou em coletiva de imprensa que empreiteiros usaram materiais de qualidade inferior em áreas de difícil acesso, escondendo-os de inspetores. Além disso, os alarmes de incêndio do complexo não estavam funcionando corretamente, afirmaram autoridades.
Este foi o incêndio mais letal em Hong Kong desde 1948, quando 176 pessoas morreram incineradas em um armazém. O caso chocou a cidade, que deve realizar eleições legislativas neste fim de semana.
Buscas continuam
Cinco dias após o incêndio, a polícia continua a vasculhar o complexo Wang Fuk Court, encontrando restos mortais de moradores em escadas e telhados, presos enquanto tentavam fugir das chamas. Mais de 40 pessoas seguem desaparecidas.
“Alguns corpos se transformaram em cinzas, portanto, talvez não consigamos localizar todos os desaparecidos”, disse a repórteres o policial Tsang Shuk-yin. Ele e outras autoridades afirmaram que as buscas se concentram nos prédios mais danificados e podem levar semanas.
Imagens compartilhadas pela polícia mostram agentes vestidos com trajes de proteção, máscaras e capacetes inspecionando cômodos com paredes enegrecidas e móveis reduzidos a cinzas. No chão, ainda há poças d’água, lembrança da luta de bombeiros para apagar o fogo que durou dias.
Mais de 4 mil pessoas moravam no complexo residencial . Dos que escaparam, mais de 1.100 foram transferidos de centros de evacuação para moradias temporárias, e outros 680 foram acomodadas em albergues e hotéis. O governo forneceu um fundo emergencial de quase R$ 7 mil para cada família e deu assistência especial para a emissão de novos documentos de identidade, passaportes e certidões de casamento.
Homenagens e repressão
Milhares de pessoas visitaram o Wang Fuk Court para prestar homenagem às vítimas, entre as quais estavam pelo menos nove empregadas domésticas da Indonésia e uma das Filipinas. Filas de pessoas se estenderam por mais de um quilômetro ao longo de um canal próximo às torres. Ao longo desta semana, vigílias também devem ocorrer em Tóquio, Londres e Taipei.
Em meio a demonstrações de indignação da população devido ao caso, Pequim alertou que reprimirá quaisquer protestos “anti-China”. Pelo menos uma pessoa envolvida em uma petição que pedia uma investigação independente e uma revisão da supervisão da construção, entre outras demandas, foi detida por cerca de dois dias, segundo a Reuters. Outras duas pessoas também foram presas sob suspeita de intenção sediciosa, informou o South China Morning Post.
O Departamento do Trabalho de Hong Kong informou que, no ano passado, os moradores do Wang Fuk Court receberam um comunicado das autoridades afirmando que eles enfrentavam “riscos de incêndio relativamente baixos”, após uma reclamação sobre os riscos causados por reformas em setembro de 2024. A preocupação era justamente com a potencial inflamabilidade da tela metálica usada pelos empreiteiros para cobrir os andaimes.
O chefe de segurança de Hong Kong, Chris Tang, também acusou indivíduos de se aproveitarem do momento para “prejudicar” Hong Kong durante uma coletiva de imprensa nesta segunda-feira.
“Notei que algumas pessoas com intenções maliciosas, visando prejudicar Hong Kong e a segurança nacional, aproveitaram-se deste momento doloroso para a sociedade”, disse ele. “Portanto, devemos tomar as medidas apropriadas, incluindo medidas coercitivas.”
O escritório de segurança nacional da China alertou indivíduos contra o uso do desastre para “mergulhar Hong Kong de volta no caos” de 2019, quando protestos pró-democracia desafiaram Pequim e desencadearam uma crise política.
“Advertimos veementemente os disruptores anti-China que tentam ‘desestabilizar Hong Kong por meio de desastres’”, afirmou o gabinete em comunicado divulgado no último sábado 29. “Independentemente dos métodos utilizados, vocês certamente serão responsabilizados e punidos com rigor.”