O hacker preso em Olinda, Pernambuco, na última segunda-feira, 25, por ameaçar o influenciador Felipe Bressanin Pereira, o Felca, afirmou que já emitiu mais de cinquenta alvarás de soltura para diversos presos e que chegou a ganhar 500 mil reais com serviços desse tipo.
Em depoimento à polícia, obtido por VEJAnesta quarta-feira, 27, Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, 22, disse que tinha acesso a vários sistemas internos de governo e forças de segurança do país e que fornecia os dados de quaisquer órgãos, cobrando geralmente em criptomoedas pelo serviço.
Segundo o hacker, a principal fonte de renda que possuía era a venda desses serviços, com a cobrança, por exemplo, de 15.000 reais para expedir alvará de soltura de presos — já tendo expedido mais de cinquenta. Para emitir esses alvarás, ele disse que acessava os perfis de juízes em sistemas internos e, para ultrapassar o duplo fator de autenticação, entrava também no e-mail do magistrado.
Ele também cobrava 3.000 reais para excluir mandados de prisão de sistemas de segurança.
Ainda no depoimento, Cayo dos Santos afirmou que também emitia e revogava mandados de prisão, incluiía dívidas no Serasa, alterava informações no SUS e na Receita Federal, bloqueava contas bancárias e consultava dados sigilosos de quaisquer pessoas.
Ele ainda disse que conhece todos os sistemas digitais utilizados pelas polícias, como os que fazem envio de ofícios, solicitação de dados e quebra de sigilo, já tendo utilizado todos eles. Ele vendia acessos a esses sistemas pelo Telegram.
O hacker também afirmou que contratava outras pessoas para criar jogos que coletam as credenciais de acesso dos jogadores — sistemas que, após instalados, passavam a recolher as informações do usuário.
Caio dos Santos também comentou que chegou a ingressar em um grupo específico de hackers e informações sigilosas no Telegram que vem sendo investigado pela polícia, mas que saiu ao se deparar com conteúdos nazistas porque “não quer se envolver com isso”.
Ele foi preso em Olinda, junto de Paulo Vinicius Oliveira Barbosa, 21, que era o dono do computador, apreendido pelos agentes de segurança, que possuía acesso ao sistema da polícia pernambucana. Apesar disso, Caio dos Santos disse que morava em Gravatá, na Zona da Mata do estado, e que estava na casa de Paulo Barbosa porque pretendia alugar uma residência na mesma rua.
Apesar de todas as declarações, o hacker negou oficialmente todas as acusações de ameaças a Felca. No entanto, o delegado responsável pelo caso, Guilherme Caselli, confirmou as ameaças: “Estavam acontecendo via e-mail, via WhatsApp e redes sociais. A gente conseguiu proceder com uma série de quebra de sigilos e rastrear a conexão das pessoas que estavam produzindo essas ameaças. No próprio computador, a gente viu registros de pesquisas sobre o Felca e conversas sobre a atuação policial. Eles sabiam que estavam sendo investigados e que o que estavam cometendo era um crime gravíssimo. Por isso o Caio foi preso temporariamente e o Vinícius em situação flagrancial”, disse
Cayo dos Santos e Paulo Barbosa são investigados por ameaça, perseguição, associação criminosa praticada em ambiente virtual e invasão de dispositivo informático. A polícia suspeita que eles fazem parte de um grupo de exploração sexual de crianças e adolescentes que atua na rede social Discord e com desafios.
Há duas semanas, Felca publicou um vídeo nas redes sociais com o título “Adultização”, no qual expôs como a imagem sexualizada de crianças e adolescentes circula nas redes sociais com o apoio dos algoritmos. Um dos vários casos que ele menciona no material é o do influenciador Hytalo Santos, que foi parar atrás das grades. O vídeo teve mais de 48 milhões de visualizações e provocou reações até no Congresso Nacionl, que aprovou na quarta-feira da semana passada o ECA Digital, lei que protege menores de idade nas redes sociais.
Com a repercussão do vídeo, Felca disse ter sofrido várias ameaças, inclusive de morte, motivo pelo qual passou a andar de carro blindado e com seguranças pessoais.
A questão da adultização e da exposição de crianças e adolescentes na internet foi reportagem de VEJA da edição nº 2.957.