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Guerra de egos: jogo entre Trump e o indiano Modi é muito mais pesado

Profeta, guru, visionário, herói da explosão econômica do país mais populoso do mundo. Santo, até, acreditam indianos seduzidos pela personalidade de um homem tão dedicado à causa que durante toda a vida tem praticado a abstinência sexual. Nesse último quesito, dificilmente Narendra Modi pode ser comparado a Donald Trump, mas em outros aspectos há muitos pontos em comum.

Os dois também têm egos gigantescos, embora a formação hinduísta de Modi devesse indicar um caminho oposto. Um exemplo: o primeiro-ministro indiano se refere a si mesmo na terceira pessoa. Também inaugurou a moda de fazer comícios em forma de holograma, quase como uma aparição descida dos céus.

E qual político não se acharia um verdadeiro milagre se tivesse 75% de aprovação e uma média de crescimento anual de quase 7% durante seus mais de dez anos, impulsionando a Índia a se tornar a quarta maior economia do mundo, com PIB de quase quatro trilhões de dólares e astronautas em sua própria estação espacial?

Como Donald Trump, Modi é de direita – seu partido, o do Povo Indiano, é nacionalista, protecionista e propugna a supremacia do hinduísmo, embora as previsões de graves conflitos sectários envolvendo a minoria muçulmana – minoria indiana, com quase 200 milhões de praticantes do islamismo – não tenham se concretizado.

PRESENÇA CHINESA

Trump apostava num bom acordo comercial com a Índia, uma joia especial na coleção de parceiros com quem se entendeu, incluindo União Europeia, Japão e Coreia do Sul. Frustrou-se. Possivelmente porque a Índia não quis abrir o mercado para exportações agrícolas, principalmente laticínios, um problema sério considerando-se que 47% da população de 1,4 bilhão de habitantes ainda vive do campo.

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Olhando de longe, é difícil imaginar que um país como a Índia se sinta ameaçado – mas vizinhos como a China e o Paquistão deixam o país em permanente crise existencial, sem contar nações menores, como Sri Lanka e Bangladesh que se abrem à presença chinesa. Também é difícil imaginar como a Índia dispensaria o petróleo russo, o motivo invocado por Trump para colocar o país no nível brasileiro de tarifação de 50%.

Antes da invasão da Ucrânia, a Índia importava apenas 0,2% de seu consumo de petróleo da Rússia. Hoje, beneficiada pelos preços de ocasião, compra 45%. É, portanto, uma situação muito mais complexa do que a do Brasil, se levados em conta apenas os fatores comerciais.

“A Índia poderia acabar com a guerra da Ucrânia amanhã”, escreveu no Telegraph o oficial da reserva e analista Tim Collins. “Modi tem uma escolha a fazer”.

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LAMBENDO OS BIGODES

Dificilmente ele vai escolher recuar – o ego e a aura de protetor nacionalista não permitem. Irá se aproximar do outro gigante asiático, com quem a Índia tem um histórico de conflitos fronteiriços? A China deve estar lambendo os bigodes. Agora no fim do mês, Modi faz a primeira visita à China desde 2019, saudada por partidários como parte de seu papel de Vishnaguru, guru ou professor global.

O mundo tal como o conhecemos nas últimas décadas nunca viu uma situação como a atual, com um presidente americano buscando agressivamente a abertura de mercados – e, agora, usando o porrete que tantos aliados europeus pediam para punir o imperialismo russo. Fica difícil criticá-lo, para essa turma, mas ninguém quer encrenca com a Índia.

Da mesma forma como nunca vimos isso antes, também não sabemos no que vai dar.

Isso que ainda nem chegamos na parte das importações de diesel russo pelo Brasil.

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