A Rússia afirmou nesta segunda-feira (29) ter tomado o controle da vila de Dibrova, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, em meio à intensificação dos combates terrestres e enquanto avançam, sem resultados decisivos, as negociações diplomáticas para encerrar a guerra iniciada em fevereiro de 2022. A informação foi divulgada pelo Ministério da Defesa russo e ainda não foi confirmada pelas Forças Armadas ucranianas.
Donetsk permanece como o principal epicentro do conflito. Autoridades locais da Ucrânia informaram que ao menos uma pessoa morreu e cinco ficaram feridas após bombardeios russos contra a cidade de Sloviansk, também no leste do país. Segundo Kiev, confrontos pesados foram registrados ainda nas regiões de Kharkiv, Dnipropetrovsk, Zaporizhzhia e Kherson.
Moscou afirma estar avançando em “todas as frentes operacionais”. O Exército russo declarou que mais de 1.350 soldados ucranianos teriam sido mortos nas últimas 24 horas, especialmente em Donetsk e Dnipropetrovsk. Os números não puderam ser verificados de forma independente. Vídeos divulgados por Moscou mostram o uso de lançadores múltiplos de foguetes Grad e ataques a supostos centros de controle de drones ucranianos.
Pressão militar em paralelo à diplomacia
A escalada militar ocorre paralelamente aos esforços diplomáticos liderados pelos Estados Unidos. No domingo, o presidente americano, Donald Trump, reuniu-se com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Flórida, e ambos afirmaram haver progresso em um possível acordo de paz. Analistas, porém, avaliam que o discurso otimista não reflete a realidade no campo de batalha nem os impasses centrais da negociação.
Para Scott Lucas, professor de política internacional da University College Dublin, ainda há questões estruturais sem solução. Entre elas estão a duração das garantias de segurança oferecidas à Ucrânia, o controle de territórios ocupados pela Rússia e a definição sobre o futuro da usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa.
“O objetivo de Kiev e de seus aliados europeus é manter a iniciativa política e evitar que Moscou dite os termos do acordo”, afirmou Lucas em entrevista à Al Jazeera.
Donbas no centro do impasse
O Kremlin voltou a defender publicamente que a Ucrânia retire suas tropas das áreas do Donbas que ainda controla como condição para a paz. Segundo o porta-voz Dmitry Peskov, sem essa retirada não haverá acordo. A Rússia afirma controlar cerca de 90% da região, que inclui Donetsk e Luhansk, embora estimativas independentes indiquem um percentual menor.
Trump chegou a afirmar recentemente que, sem um acordo, Kiev corre o risco de perder ainda mais território. Zelensky, por sua vez, insiste que qualquer concessão territorial viola a Constituição ucraniana e não conta com apoio popular.
Lei marcial e desgaste humano
Zelensky reiterou que a lei marcial só será suspensa após o fim da guerra e a obtenção de garantias de segurança do Ocidente. Desde o início do conflito, a medida impede eleições nacionais e restringe a saída de homens em idade militar do país.
Enquanto isso, o desgaste humano e material se aprofunda. Segundo autoridades ucranianas, apenas nas últimas 24 horas foram registrados mais de 200 confrontos armados ao longo da linha de frente. Ataques russos deixaram ao menos três civis feridos na região de Kharkiv, incluindo idosos.
Do lado russo, o Ministério da Defesa anunciou o alistamento de 135 mil novos recrutas no último trimestre de 2025, reforçando a avaliação de que Moscou se prepara para sustentar um conflito prolongado, independentemente do ritmo das negociações.
Apoios internacionais e tensões paralelas
A Alemanha declarou apoio aos esforços de Trump para alcançar uma “paz justa e duradoura”, mas ressaltou que há um descompasso entre o discurso russo e suas ações militares. A China, por sua vez, afirmou esperar um acordo “justo, vinculante e duradouro”, embora tenha criticado a decisão de Kiev de impor novas sanções contra empresas ligadas ao complexo militar russo, incluindo algumas com participação chinesa.
Com combates intensos no leste e posições rígidas à mesa de negociação, o conflito entra em seu quarto ano sem sinais claros de desfecho próximo, mantendo a Ucrânia sob pressão militar constante e a diplomacia internacional diante de limites cada vez mais evidentes.