Um grupo de congressistas democratas dos Estados Unidos acusa o presidente Donald Trump de mobilizar o FBI, a agência federal de aplicação da lei, para intimidá-los depois da divulgação de um vídeo em que pedem a militares e agentes de inteligência que rejeitem qualquer “ordem ilegal” do governo. A senadora Elissa Slotkin, de Michigan, afirmou que ela e outros cinco parlamentares — todos veteranos das Forças Armadas ou da inteligência — foram notificados por agentes federais na segunda-feira, 24.
No vídeo, os legisladores ressaltam que soldados têm o dever de recusar determinações manifestamente ilegais, princípio previsto no Código Uniforme de Justiça Militar (UCMJ, na sigla em inglês). A gravação irritou Trump e, em mensagens na rede Truth Social, o presidente os chamou de “traidores”, acusou o grupo de “sedição” e chegou a sugerir que condutas desse tipo seriam “puníveis com a morte”.
No fim de semana, Trump subiu o tom e afirmou que os parlamentares deveriam “estar na prisão”, antes de recuar e dizer que “não estava ameaçando ninguém”. As declarações receberam críticas de integrantes dos dois partidos.
Além de Slotkin, aparecem na gravação o senador Mark Kelly — ex-capitão da Marinha e ex-astronauta — e os deputados Chris Deluzio, Maggie Goodlander, Chrissy Houlahan e Jason Crow. Eles acusam Trump de usar o FBI como “instrumento de intimidação política” e afirmam, em nota conjunta: “Não seremos intimidados. Nosso juramento à Constituição é permanente”.
A polêmica também respingou na comunidade de inteligência. A porta-voz da CIA, Liz Lyons, lembrou que ex-agentes seguem vinculados ao juramento feito ao assumir o cargo e criticou declarações de Slotkin de que haveria ordens ilegais sendo transmitidas à agência, classificando a afirmação como “infundada e irresponsável”.
A polêmica chegou ainda ao Pentágono. O secretário de Defesa, Pete Hegseth, anunciou que a conduta de Kelly será analisada por possível violação do UCMJ. Embora aposentado, o senador ainda está sujeito à legislação militar e pode, em tese, ser convocado a responder perante tribunal militar. Hegseth acusa Kelly de usar seu antigo posto para dar “aparência de autoridade” ao vídeo e de manchar a imagem das Forças Armadas.
A discussão sobre o “dever de desobedecer” — reconhecido desde a Segunda Guerra Mundial para casos de ordens inconstitucionais ou criminosas — volta ao centro do debate político nos EUA. Enquanto a Casa Branca não comenta o caso, o Departamento de Justiça e o FBI também se mantêm em silêncio. Segundo a agência de notícias Reuters, agentes federais solicitaram entrevistas preliminares com os parlamentares para avaliar se houve alguma irregularidade.