Gregório Duviver, 39 anos, acaba de lançar o documentário O Brasil que Não Houve – As Aventuras do Barão de Itararé no Reino de Getúlio Vargas, no qual é o narrador, disponível no Canal Curta!. O tal “barão” foi uma criação de Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly que, pelo falso título de nobreza, se tornou pioneiro no humorismo político brasileiro nos idos dos anos 1930 e 1940, em crônicas publicadas no extinto jornal A Manhã. Com humor ácido, criticava o poder político, no auge do governo de Getúlio Vargas. Guardadas as devidas proporções, Gregório trouxe muito dessa inspiração nas seis temporadas de seu Greg News, quando esteve no ar até 2024 na HBO. Como um dos criadores do Porta dos Fundos, leva a crítica social e comportamental do país a risos fartos na internet desde 2012. Além disso, segue em cartaz com a elogiada peça O Céu da Língua, na qual brinca com a origem e o uso de palavras da língua portuguesa. Convidado do programa semanal da coluna GENTE (disponível no canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+, na TV Samsung Plus e também na versão podcast no Spotify), Gregório explica por que é contra o cancelamento de humoristas do passado tal como defende que as obras de Monteiro Lobato, tidas como racistas, devam ser resguardadas. Rasga elogios ao presidente Lula (PT), a quem chama de “maior democrata do mundo”; diz o que não o motiva a fazer novelas na TV Globo e os cuidados que costuma ter ao fazer piadas com figuras religiosas, como Jesus Cristo. Assista.
CONTRA O CANCELAMENTO. “O humor é fruto do seu tempo. O humor preconceituoso é fruto de um tempo preconceituoso. Casseta & Planeta por exemplo que eu amava, não era mais preconceituoso do que a sociedade. A sociedade era aquilo tudo. A gente morria de rir, porque a gente pensava tudo (da mesma forma). Não era preconceituoso na época. Hoje em dia é. E o que a gente faz com o humor? Aqueles esquetes que a gente amava? A gente joga fora? A gente cancela? Não. Sou a favor que a gente veja e reveja com olhar crítico, claro, mas sem cancelamento. O passado, é importante que a gente não varra para debaixo do tapete”
MONTEIRO LOBATO. “Monteiro Lobato, por exemplo, era um grande autor, escreveu muito bem, eu o amava, comecei a ler com ele. E aquilo ali tem trechos muito problemáticos. Mais que problemáticos, vamos falar a palavra, racistas mesmo. O que faz com aqueles textos? Joga fora? Queima Monteiro Lobato? Não. Queimar Monteiro Lobato é queimar as provas do nosso racismo. E foi o que a gente sempre fez na história. A gente sempre queimou o passado”.
PIADA COM JESUS. “Uma coisa é rir do fiel enganado por pastores fundamentalistas e bandidos, isso é mais fácil. Outra coisa é rir do Malafaia, do Feliciano, desses pastores, deputados que são bilionários, com contas na Suíça, e tem um canal de televisão só para eles. Isso daí a gente não pensa muito antes de fazer. Justamente porque a gente está rindo de quem tem muito poder para nos responder. Quando a gente ri de religião, a gente não está rindo da religião, a gente não ri de Jesus, a gente ri do fanatismo. A gente não se preocupa muito se está ofendendo gente. Porque se o fanático religioso se sentiu ofendido, é sinal que a gente fez o trabalho certo”.
PREOCUPAÇÃO COM HATERS. “O que a gente tem no Porta de modo geral é uma preocupação, mas não chamaria de medo. Acho que é uma preocupação saudável. Quando você tem uma coisa muito grande, que é o nosso caso, a gente tem 20 milhões de inscritos, é muita gente… Não dá para falar o que dá na telha. E as pessoas na internet falam o que dá na telha, como se aquilo não fosse chegar na casa de milhões de pessoas. Pensar sobre o que você está falando não é medo do cancelamento, é noção do seu alcance e da sua responsabilidade”.
HUMORISTA POLITIZADO. “Todo humorista é, não acredite naqueles que dizerem que não têm agenda. Eles são muito ingênuos ou despolitizados. A gente viu o que dá um humor sem agenda. Humoristas de modo geral, que se diziam nem de direita, nem de esquerda, todos apoiaram Bolsonaro em 2018”.
FORA DA GLOBO. “Sabe que não teve muitos convites (para atuar na Globo)? A questão da novela, fora essa coisa que você falou do merchan, é o tempo sem fazer teatro. Isso para mim é um pesadelo. A não ser que você seja o (Antonio) Fagundes, ele consegue fazer teatro com novela… Mas fora o Fagundes, novela te impede de fazer teatro e a minha vida é o teatro”.
Sobre o programa semanal da coluna GENTE. Quando: vai ao ar toda segunda-feira. Onde assistir: No canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+, na TV Samsung Plus ou no canal VEJA GENTE no Spotify, na versão podcast.