O governo dos Estados Unidos acusou a China de adotar práticas comerciais desleais para dominar a indústria global de semicondutores, mas decidiu adiar qualquer aumento de tarifas sobre chips chineses até pelo menos meados de 2027. A decisão busca preservar uma trégua frágil na disputa comercial entre as duas maiores economias do mundo.
As conclusões constam de um relatório divulgado nesta semana pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA, resultado de uma investigação iniciada ainda durante a administração Biden. O documento sustenta que Pequim utiliza instrumentos típicos de uma economia fortemente dirigida pelo Estado para influenciar toda a cadeia global de semicondutores, criando dependências estratégicas que poderiam ser usadas como instrumento de pressão econômica sobre outros países.
Segundo a avaliação americana, o avanço chinês no setor se apoia em subsídios estatais persistentes, restrições ao acesso de mercado, fundos públicos direcionados, exigências informais de transferência de tecnologia, fragilidades na proteção de propriedade intelectual e práticas regulatórias consideradas discriminatórias. Washington também aponta distorções no mercado de trabalho que contribuiriam para reduzir custos de produção.
Apesar do tom duro, o governo Trump optou por não impor novas tarifas no curto prazo. O relatório indica que eventuais sobretaxas só poderão entrar em vigor a partir de 23 de junho de 2027, com definição das alíquotas prevista para poucas semanas antes dessa data. Até lá, os EUA mantêm as tarifas já existentes.
A decisão ocorre em um momento sensível das relações bilaterais. Um encontro entre o presidente Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping é esperado para os próximos meses, possivelmente em Pequim. O relatório também marca o encerramento de um ano marcado por fortes oscilações nos mercados globais, provocadas por uma escalada tarifária que chegou a atingir níveis recordes, antes de um recuo negociado.
No auge da disputa, Estados Unidos e China elevaram tarifas para patamares próximos de 145%, afetando severamente o comércio bilateral. Pequim respondeu com restrições à exportação de terras raras, insumos essenciais para setores como o automotivo, a indústria de defesa e a transição energética. Posteriormente, os dois países concordaram em aliviar parte das restrições comerciais e tecnológicas após uma reunião entre Trump e Xi na Coreia do Sul, em outubro.
Paralelamente à investigação comercial, o governo americano mantém um inquérito separado com base em argumentos de segurança nacional, que pode resultar em novas barreiras à importação de semicondutores. Até o momento, porém, os resultados dessa apuração não foram divulgados.
Trump também voltou a mencionar, em discursos recentes, a possibilidade de impor tarifas de até 100% sobre chips importados, especialmente como forma de pressionar empresas estrangeiras a transferirem produção para os Estados Unidos. O presidente tem indicado que companhias dispostas a investir em fábricas em território americano poderiam ser poupadas dessas medidas.
Analistas avaliam que a estratégia reflete um equilíbrio entre o discurso protecionista do governo e a preocupação em evitar novos choques inflacionários ou turbulências nos mercados financeiros. Ao adiar sanções mais duras, Washington preserva margem de negociação com Pequim enquanto reforça a sinalização política de que considera o setor de semicondutores central para sua segurança econômica e tecnológica.